Mestres do Terror é uma das revistas em quadrinhos mais importantes da desconhecida história da literatura nacional de terror, a série clássica foi publicada originalmente pela editora D-Arte em 62 edições mensais/bi/trimensais e 4 edições especiais entre 1981 e 1993, sendo continuada pela editora Ink & Blood Comics desde 2015. Em suas páginas o medo ganhou forma e fertilizou o solo da mente de uma geração de leitores com pesadelos e horrores que intercalavam causos genuinamente brasileiros com histórias protagonizadas por monstros icônicos do cinema como Drácula, Frankenstein, Lobisomem e Múmia, com roteiro e arte de mestres como R. F. Lucchetti, Rodolfo Zalla, Eugênio Collonese, Jayme Cortez, Gedeone Malagola, Rodval Matias, Flavio Colin, Ota, Julio Shimamoto, Mozart Couto, entre outros grandes nomes que também assombravam as páginas da Calafrio, também foi publicada pela editora D-Arte na mesma época.
A primeira edição da Mestres do Terror se inicia com uma breve introdução que apresenta ao leitor brasileiro as associações existentes entre o Drácula literário de Bram Stoker e a figura histórica do príncipe Vlad Tepes, apontadas pelos pesquisadores Raymond T. Mcnally e Radu Florescu no livro 'Em busca de Drácula', servindo como uma espécie de prólogo para a primeira história: "A volta de Drácula: O vampiro de cera" com roteiro de R. F. Lucchetti e arte de Rodolfo Zalla. Uma série de estranhas mortes assolam a Europa, o rastro de cadáveres se iniciou na Transilvânia e chegou até Londres, com as vítimas sendo encontradas completamente sem sangue e com marcas de mordida em seus pescoços. Os jornais refletiam os medos da população publicando caricaturas dos inspetores da Scotland Yard como vampiros, enquanto os investigadores discutiam uma abordagem mais realista, assumindo que os crimes são reflexo da atuação de um maníaco influenciado pelo cinema. Essas crenças serão colocadas à prova após uma visita a um estranho museu de cera com suas atrações extremamente realistas.
O roteiro de Lucchetti é simples, mas efetivo ao abordar uma das premissas clássicas das histórias de Drácula, a sedução da donzela que é o interesse romântico do mocinho, ao mesmo tempo que apresenta os diversos aspectos específicos da mitologia vampírica. O aceno metalinguístico ao nosso fascínio pela figura de Drácula inserido no texto torna a leitura ainda mais divertida. O Drácula desenhado pelo Zalla é icônico, misturando a postura aristocrática de Bela Lugosi, com seu terno preto e capa de forro vermelho, com a força sedutora de Christopher Lee, em seu rosto expressivo e detalhado. A trama oferece uma conclusão previsível, mas é efetiva em estabelecer uma base para o universo do personagem mostrando que esse é apenas o início do reinado de terror do príncipe das trevas.
Em seguida somos apresentados ao "O Morto do Pântano", com texto de Décio Miranda Jr. e desenhos de Eugenio Colonnese, em uma clássica história de triângulo amoroso que acaba em tragédia. Em busca do sossego do interior, Martha, Sérgio e Nathaniel vão passar fim de semana em uma isolada cabana próxima de um lago. Martha oferece um ultimato a Sérgio, questionando seu relacionamento estagnado e suas aspirações com relação a um casamento, como ele permanece indeciso sobre o assunto, ela revela que recebeu uma proposta de Nathaniel e sua intenção em aceitar. Como é de se esperar a notícia enfurece Sérgio que começa a tramar uma vingança que impeça a união dos dois. É no meio dessa confusão sangrenta que conhecemos o Morto do Pântano, um personagem que funciona como uma espécie de narrador dos causos macabros ambientados em seu pântano, ao mesmo tempo que participa ativamente do enredo cortando as pontas soltas da história com seu machado.
A próxima história é acompanhada de reviravoltas, "O solitário", com texto de Luís Merí e arte de Eugenio Colonnese, se inicia com um homem caminhando à beira de uma praia vazia. Ele está procurando uma mulher sozinha para satisfazer seus desejos homicidas, entretanto uma sucessão de eventos estranhos levará o leitor a questionar a realidade da própria narrativa. Quebrando a sequência de histórias em quadrinhos surge o conto ilustrado "A Boa Morte", da escritora uruguaia Juana de Ibarborou, explorando o misticismo popular em uma trama que narra a forma como um pequeno povoado lida com a morte da "velha" Cândida, uma figura emblemática local, mistura de curandeira com bruxa, que inspira medo e adoração na população. Um conto regular, cuja ambientação é mais interessante que seu final abrupto.
A seguir temos "Reencontro" de Jayme Cortez. Uma mãe solteira sofre sozinha as dores de um parto em um local isolado, quando a criança nasce ela diz que não pode ficar com ela, e após colocar em seu pescoço uma medalha com uma cruz a joga no mar. Pouco tempo depois descobrimos o motivo, a mulher volta para a cidade para aceitar o pedido de casamento de um jovem rico que acredita ser o primeiro homem de sua vida. Essa história não terminará como um conto de fadas quando o "reencontro" do título acontecer. A arte de Jayme Cortez é fantástica, seus traços únicos oferecem quadros que exalam detalhes, sejam nas construções ao fundo ou nas feições das personagens carregadas de emoções.
"Medo", com desenhos e arte de Lyrio Aragão, é o típico causo de assombração cujas variações regionais permeiam o território brasileiro. Quando sua esposa sente-se doente, o protagonista precisa sair em busca de um médico no meio da noite, sem saber onde fica a casa do profissional pede informações para um estranho parado à frente de um cemitério. Na mesma temática "O anel maldito", com texto de Luis Carlos e desenhos de Rodolfo Zalla, conta as desventuras de um ladrão de sepulturas que rouba um anel de um túmulo e passa a ser assombrado por pesadelos com os mortos. E o que aprendemos com essas duas histórias é que nunca é uma boa ideia conversar com estranhos na frente de cemitérios ou desenterrar pertences dos mortos.
"Um cadáver para Mr. Bay!", com texto de Maria Aparecida Godoy e arte de Rodolfo Zalla, é uma das histórias mais interessantes e macabras deste volume. Mr. Bay se muda para um pequeno vilarejo, lugar que considera perfeito para seu novo empreendimento devido a sua população rica e idosa, futura clientela de sua funerária. Mesmo sabendo que a funerária anterior fechou por falta de fregueses, ele acredita que os velhos não tardarão a morrer. Um ano depois, sem que uma pessoa qualquer tenha morrido, Mr. Bay começa a desconfiar que há algo de errado nessa cidade. Quando decide colocar em prática um plano infalível para descolar um cadáver, descobrirá que verdade é mais horrível do que possa imaginar. Fecha a edição "O fantasma de Jack Sheppard", com texto de Gedeone Malagola e arte de Rodolfo Zalla, uma história curta que utiliza a figura folclórica do ladrão inglês Jack Sheppard, famoso por suas fugas da prisão, para narrar um causo de encontro fantasmagórico.
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