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Resenha | Clive Barker Apresenta: Hellraiser #4

 

E finalmente chega a hora de dissecar o último volume das quatro edições brasileiras da expansão do universo de Hellraiser em histórias em quadrinhos publicadas pela editora Abril. A série foi lançada originalmente pela Epic Comics entre 1989 e 1992, com duração total de vinte edições, após o sucesso dos filmes Hellraiser: Renascido do Inferno (1987) e Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988). Clive Barker não escreveu nenhuma história especificamente para essa coleção, entretanto é creditado como consultor especial para cada edição. Este volume marca mais uma interseção entre os quadrinhos e  o cinema, se na edição anterior tivemos uma história escrita por Peter Atkins, o roteirista de Hellraiser II, nesta quem nos oferece uma nova trama sombria é Nicholas Vince, que interpretou o cenobita Chatterer nos dois primeiros filmes.

"Cenobita" com argumento de Nicholas Vince e arte de John Van Fleet é uma história que explora a mitologia do Labirinto de Leviatã apresentado em Hellraiser II. Edward Leverett desde a infância teve sua existência guiada por uma trindade de conceitos: ordem, disciplina e punição. Seus primeiros anos foram passados em um orfanato gerido por freiras católicas e o controle rígido da religião oferecia a ordem tão desejada, cuja transgressão era considerada pecado e a punição a forma de retomá-la. No início da vida adulta Leverett encontrou ordem no exército e a violência e repressão como forma de mantê-la em seu batalhão, entretanto o caos se imiscuiu em seu paraíso na forma de um conflito e ele foi lutar na guerra das Malvinas. 

A sua obsessão por ordem acabou o levando a uma dispensa desonrosa. Tudo isso e o espinhoso caminho que o trouxe até o inferno cenobita é arrancado de sua memória na forma de flashbacks em meio a agonia de ter sua carne despedaçada e remodelada. Nicholas Vince explora outras motivações além do prazer da carne para a busca obsessiva pelos cenobitas, Leverett acredita que ao desvendar a Configuração do Lamento encontrará a tão desejada ordem para o caos do mundo e está disposto a ir até os limites da carne para atingi-la. A arte de John Van Fleet  torna a leitura ainda mais incrível, mesclando um realismo selvagem na reprodução da carne com uma ambientação ciclópica e lovecraftiana do Labirinto. 

"Como Moscas Para Meninos Travessos" escrito por Bunny Hampton-Mack e com arte de Scott Hampton é uma história que utiliza a mitologia do universo de Hellraiser como ponto de partida para investigações de pesadelos e tormentos existenciais. Em uma festa dois interlocutores conversam sobre uma presença curiosa no evento: Ian Woolrich, cuja última aparição em público tinha sido há sete anos. Ele viveu todo esse período recluso nos limites de sua casa, refém de um medo incontrolável de abrir portas fechadas. Essa fobia teve início em outra confraternização onde Woolrich resolveu um estranho quebra-cabeça em formato de caixa e depois disso, após se dirigir para um quarto no andar de cima, desapareceu. 

Ele reapareceu dias depois trancado em uma despensa da cozinha e o que revelou foi tomado por loucura febril, pois era um horror cuja simples consideração ameaçava as barreiras da sanidade. Bunny Hampton-Mack escreve uma trama que vai em contrapartida ao horror corporal típico das histórias de Hellraiser para explorar um terror psicológico que oferece um ar fresco à temática, grande parte de sua história é ambientada num vazio infinito, uma escuridão primal e perpétua convocada pela Configuração do Lamento. E apesar de não ter nenhuma participação cenobita é uma das melhoras histórias da coleção.

"Preparar uma face", com roteiro de Jan Strand e arte de Mark Chiarello, marca a terceira aparição de 'Face', um cenobita com o rosto esfolado em carne viva que utiliza a pele de suas vítimas pregadas em sua face, mostrando desta vez a sua história de origem. Suas aparições anteriores foram em 'Vermelho Quente' da edição um e 'O Precipício de Cristal' da edição três. A trama é inspirada em Lon Chaney e em sua preparação para o papel de Fagin de Oliver Twist. Famoso pelas transformações físicas de seu rosto em suas performances o ator enfrenta dificuldades para acertar o face de seu novo personagem, diferentes maquiagens foram experimentadas e descartadas. Inquieto, pois esse elemento é o diferencial em sua atuação, decide caminhar pelas ruas e becos da cidade buscando inspiração, observando rostos e feições de estranhos anônimos. É então que um deles chama sua atenção, o rosto perfeito. Logo ele descobrirá que não há limites para se conseguir a máscara perfeita.

As quatro edições de quadrinhos da editora Abril são uma leitura imperdível se você é fã de Hellraiser, o modo como outros autores se apropriam das temáticas de Clive Barker oferece diversos conceitos divertidos e instigantes. É uma pena que a editora tenha abandonado a publicação, essas histórias são apenas uma pequena parte das vinte edições, entretanto essa não é a única publicação existente no Brasil. Em 2003 a editora Brainstore lançou uma compilação de 236 páginas que além de republicar algumas histórias dos volumes da Abril, traz diversas tramas inéditas que foram publicadas em edições posteriores. 

   
  Hellraiser, Volume 4 (1991) | Ficha Técnica 
   Título original: Hellraiser (1989)
   História da capa: Como Moscas Para Meninos Travessos
   Artistas: Jan Strnad, Bunny Hampton-Mack , Nicholas Vince et al.
   Editora: Abril
   Páginas: 68 páginas
   Compre: ---
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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2 Comentários

  1. Que bom que as resenhas voltaram com tudo. Também vale a pena conhecer as histórias publicas pela Boom Studios

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