Continuando com as resenhas das adaptações para histórias em quadrinhos do universo de Hellraiser de Clive Barker, chega a hora de dissecar o terceiro volume das quatro edições brasileiras publicadas pela editora Abril em 1991. Originalmente a série foi publicada entre 1989 e 1992 pela Epic Comics com um total de vinte edições. Esta edição marca o início de uma nova abordagem da revista, menos histórias em cada volume, mas em contrapartida roteiros mais longos e desenvolvidos. São três histórias que exploram as interseções entre o universo Cenobita e a realidade humana de formas bem diferentes.
"O Precipício de Cristal", com arte de Steve Buccellato e argumento de Jan Strnad, marca o retorno de Face, o cenobita que apareceu pela primeira vez em "Vermelho Quente", história publicada no volume 1. Face é um cenobita que possui o rosto esfolado em carne viva e que utiliza a pele de suas vítimas grampeadas em sua face. A história se passa em outro planeta, mostrando que o alcance do poder dos cenobitas se estende para além da Terra. É um mundo desértico e sem vida, ou melhor, é povoado por estranhas estruturas de cristal cuja concepção de existência e morte são completamente diferentes do ser humano. De toda forma é um planeta livre de dor e dos pecados da carne.
Strnad explora o conceito de paraíso para os cenobitas. Um mundo com criaturas que desconhecem dor e prazer é um bálsamo para a overdose de sensações que eles experimentam constantemente no Inferno e na Terra. O foco no desenvolvimento dessa mitologia específica faz com que a trama seja caótica e cheia de furos. Quatro exploradores humanos ficam presos neste mundo sem esperanças de resgate ou fuga, logo começam a surgir conflitos, desejos reprimidos e discussões que acabam por sujar de sangue e vísceras o solo inócuo do local. A perturbação profana da humanidade no planeta provoca uma reação do cenobita.
"O Sangue do Poeta" de R.J.M. Lofficier com ilustrações de John Ridgway, é a melhor e mais longa história do universo dos quadrinhos publicada até então. Um jovem poeta se muda para a Paris pós-guerra da década de vinte, buscando aprimorar sua escrita. Sem dinheiro para alugar uma casa decente, descobre uma comunidade de artistas que oferece moradia e alimentação gratuita para aqueles que desejam viver e explorar sua arte. A pensão é financiada por um mecenas obscuro, que mais tarde descobrimos se tratar de Lemarchand.
Na primeira noite, após uma estranha e perturbadora socialização com os outros residentes, o poeta tem pesadelos terríveis, tão assustadores que logo que acorda começa a transcrever as horríveis visões para o papel até seus dedos verterem sangue. O que produz é o trabalho mais incrível de sua vida, de qualidade inegável, mas extremamente desagradável e desesperador. Não demora muito para o jovem descobrir o arrepiante segredo do lugar e que só existe um tipo de criatura capaz de apreciar a natureza perturbadora de sua arte.
"Músicas de Metal e Carne" é escrita por Peter Atkins, roteirista de Hellraiser II, III e IV, e ilustrada por Dave Dorman e Lurene Haines, sendo mais uma pérola das HQs que extrapola a equação sexo, prazer e dor de Clive Barker para explorar uma forma de conexão cenobita mais poética e intimista: a música. O protagonista perdeu a visão ainda na infância, e seus outros sentidos se desenvolveram além do normal para compensar essa perda, em especial a audição.
Sua percepção dos sons, da forma como as notas musicais cortam o ar e produzem reverberações para além da imaginação, fez com que se tornasse um prodígio musical. Mas ele não almejava o sucesso comum, desde pequeno sentia que existia algo além, logo após o limite da percepção humana. Seu primeiro vislumbre dessa realidade aconteceu depois de vivenciar o som e as sensações de um orgasmo, quando adicionou dor ao prazer galgou mais um degrau de percepção sensorial, mas ainda não era o suficiente. Quando consegue ultrapassar a barreira da carne para compor sua obra prima com sangue, o resultado é uma orgia dionisíaca infernal.
Hellraiser, Volume 3 (1991) | Ficha Técnica
Título original: Hellraiser (1989)
História da capa: O Precipício de Cristal
Artistas: Jan Strnad, Peter Atkins, R.J.M. Lofficier, et al.Editora: Abril
Páginas: 68 páginas
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Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)
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