A história de Dean Koontz é marcada pela utilização de vários pseudônimos literários durante as décadas de setenta e oitenta, nomes como Deana Dwyer, Brian Coffey, Owen West, Leigh Nichols, John Hill, David Axton e K.R. Dwyer eram uma válvula de escape para suas experimentações literárias de início de carreira. Geralmente estes livros se aproveitavam de temáticas populares em suas épocas, misturando elementos do horror e da ficção científica com pouca parcimônia e com qualidade questionável. Entretanto esses textos não tinham a profundidade ou complexidade temática dos livros que lançava como Dean R. Koontz.
Em meados da década de noventa várias dessas obras foram resgatadas do esquecimento, reescritas, reeditadas e republicadas. Uma das maiores diversões de Koontz na introdução dessas novas edições era inventar uma morte trágica para seus pseudônimos. Alguns desses livros foram reescritos por inteiro, enquanto outros sofreram algumas alterações e tiveram sua trama atualizada para acompanhar a evolução da tecnologia e o contexto social político da época, como é o caso de Os Olhos da Escuridão. O livro foi publicado originalmente em 1981 por Leigh Nichols e republicado por Dean Koontz em 1996.
Os Olhos da Escuridão mistura suspense com paranormalidade, servindo-se originalmente do contexto histórico da Guerra Fria para adicionar elementos como experimentos secretos e conspirações governamentais em sua trama. O livro está próximo temática e temporalmente de A Incendiária de Stephen King, A Fúria de John Farris e Mergulho no Subconsciente de Paddy Chayefsky, obras que também se alimentaram da tensão internacional desta época.
A reescrita na década de noventa alterando o inimigo, de União Soviética para China, descaracterizou a obra historicamente e os elementos que funcionam com as obras citadas acima não fazem muito sentido em Os Olhos da Escuridão neste novo contexto. Essa alteração também fez com que décadas depois trechos do livro viralizassem em meio a uma pandemia, na forma de um boato que se espalhou mundialmente dizendo que o "historiador" Dean Koontz havia previsto o aparecimento do coronavírus em Wuhan. Em especial por conta da alteração do nome de um vírus de Gorki-400 para Wuhan-400.
Se por um lado foi esse acontecimento que motivou a sua publicação no Brasil, por outro foi difícil explicar para aquela tia que compartilha fake news que Dean Koontz não era nenhum historiador vidente, mas sim um escritor de ficção. O pior é que esse boato é um grande spoiler da trama, já que esse vírus é mencionado só nas páginas finais e o conhecimento prévio de sua existência destrói grande parte do mistério da narrativa. Isso não é algo que estraga completamente a experiência da leitura, mas a torna bem previsível. E para um livro de suspense de Dean Koontz, isso é quase fatal.
Os Olhos da Escuridão, para quem é fã de Dean Koontz, é uma leitura que resgata aquele seu estilo descompromissado e cheio de ação da década de oitenta. Os destaques negativos estão para um início muito lento, quase trinta por cento do livro é usado para contextualizar a história da protagonista, com alguns personagens e passagens que não tem nenhuma relevância para o enredo principal. E para um final bem tosco, estilo filme de ação de baixo orçamento cujo roteiro precisou improvisar um clímax com pouco dinheiro, ou neste caso imaginação. A experiência de leitura talvez seja pior se você for aquela pessoa que está atrás do Dean Koontz vidente que previu o coronavírus.
Na trama a protagonista perdeu seu filho em um acidente estranho. Meses depois ela começa a ter pesadelos aterrorizantes e mensagens aparecem nas mais diversas superfícies dizendo: não está morto. Depois de voltas e mais voltas ela finalmente acaba percebendo que talvez haja algo para descobrir acerca da morte de seu filho. Por sorte ela acabou de conhecer um cara que tem todo o conhecimento necessário (por coincidência ele já foi um espião) e todo o dinheiro necessário (por coincidência ele é rico) para empreender uma busca por respostas e enfrentar perigos mortais desconhecidos.
Não é o melhor livro de Dean Koontz, mas também não é o seu pior. Há alguns bons momentos na trama, principalmente quando os protagonistas caem na estrada em busca de respostas, mas que são empalidecidos por coincidências demais, situações inverossímeis demais, muitas conclusões forçadas e um final decepcionante. Os Olhos da Escuridão é exatamente aquilo que parece ser, um romance de início de carreira com uma trama temática básica e insípida que não atinge todo seu potencial.
Os olhos da escuridão (2020) | Ficha Técnica
Título original: Eyes of Darkness (1981)
Autor: Dean Koontz / Leigh Nichols
Páginas: 336 páginas
Autor: Dean Koontz / Leigh Nichols
Tradutora: Débora Isidoro
Editora: Citadel Grupo EditorialPáginas: 336 páginas
Compre: Amazon
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (5/10 Caveiras)
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (5/10 Caveiras)
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