Mais do que ser responsável pela primeira edição da história, a publicação da Fantasy Tales merece ser lembrada por trazer a primeira adaptação imagética da figura de Candyman, do mesmo modo que a versão cinematográfica de Tony Todd se afasta do cerne das descrições de Clive Barker, a ilustração de John Stewart traz a representação de um verdadeiro bicho-papão: Candyman é retratado como uma criatura arrepiante, uma espécie de cadáver putrefato de aspecto bestial com uma colmeia de abelhas vivendo nos restos de suas tripas, além é claro do grande destaque para sua "ferramenta de trabalho", o gancho em seu braço direito.
O sucesso dos Livros de Sangue não está apenas nas imaginativas e vívidas descrições das cenas de horror de Clive Barker, suas histórias também exploram problemas humanos, reviram as entranhas pútridas das feridas causadas por tabus e preconceitos e obrigam o leitor a encarar e digerir a massa fétida proveniente dessa vivissecção. Para além das explanações sobre lendas urbanas e mitos, o cerne de The Forbidden é a violência urbana, a trama disseca com propriedade a degradação da sociedade e a banalização da violência.
Nesse aspecto a cena de abertura da história é rica em simbolismos e metáforas, assim como o Jardim do Éden, o Conjunto Habitacional da Spector Street foi entregue em toda sua glória e esplendor a seus moradores, que infelizmente também acabaram profanando sua sacralidade, o que resultou em um completo abandono por parte de seus "criadores".
A visão inicial que Barker suscita do ambiente urbano é de caos e destruição, a fachada civilizatória é marcada pelos estigmas de pichações e grafites que retratam os anseios e desejos mais sombrios da sociedade, a violência e a morte em uma obscena conflagração carnal adornadas com um erotismo selvagem.
É este ambiente claustrofóbico e decadente que recebe Helen, a protagonista, em sua busca por material para desenvolver sua tese sobre as relações entre as pichações e o desespero urbano. Os rabiscos nas paredes das casas e muros são válvulas de escape para as pressões sociais, há segredos a serem descobertos em meio as declarações anônimas de amor e rabiscos com insinuações de perversões sexuais além da imaginação. Se cada corpo é um livro de sangue, cada parede rabiscada é uma coletânea de obscenidades e delírios. E no canto mais obscuro, do ponto mais sombrio, jazem menções a uma lenda urbana que não deve ser perturbada.
Candyman traz a narrativa ágil e imersiva de Clive Barker em uma busca frenética pelos segredos por trás das lendas urbanas, a edição da Darkside foi feita na medida para os fãs da adaptação cinematográfica, embora a história do conto seja bem diferente do filme. É um ótimo primeiro contato para o leitor que não conhece o estilo narrativo de Clive Barker, mas para o leitor que é fã do autor é um livro que não sacia. Ler The Forbidden fora dos Livros de Sangue é como devorar apenas uma pequena parte de um banquete quando se está morrendo de fome, sabendo que há mais alimento de onde aquele veio, a sensação de "querer mais" é agonizante.
A edição está impecável e ao mesmo tempo que enche os olhos cria uma grande expectativa para ver o que Darkside faria com uma edição completa dos Livros de Sangue. No contexto geral das histórias da coleção The Forbidden não é nem a mais sangrenta e muito menos a mais imaginativa de Barker. É uma leitura divertida, ainda mais se você for fã dos filmes.
Candyman (2019) | Ficha Técnica
Título original: The Forbidden (1985)
Autor: Clive Barker
Páginas: 112 páginas
Tradutor: Eduardo Alves
Editora: DarksidePáginas: 112 páginas
3 Comentários
Seria um sonho se realizando se a darkside, ou qualquer outra editora, relançasse os livros de sangue!
ResponderExcluirJá tenho o meu. Estou ansioso para ler.
ResponderExcluirO filme é muito bom. Espero que o livro também seja.
Em tempo: a caracterização de Tony Todd é muito melhor do que a representação original do personagem. ;)
Ansioso para ler CANDYMAN.
ainda espero ansioso que a darkside lance a trilogia "abarat", ignorada pela companhia das letras.
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