Escuridão de Jorge Alexandre Moreira, um clássico desconhecido da literatura de terror nacional publicado em 2003, é um sangrento híbrido narrativo que mistura o ritmo alucinante de tensão de um eco-thriller ambientado nos confins da selva amazônica, as cenas de ação e os personagens robustos de um suspense militar com a violência e a permanente sensação de medo de um horror sobrenatural povoado por aterrorizantes criaturas pré-históricas.
Todos esses elementos se encaixam com uma precisão cirúrgica, em uma narrativa de múltiplas camadas, por meio de uma escrita ágil, gráfica e realista que transporta o leitor diretamente para um inferno verde de dor e desespero. No interior remoto e isolado da Amazônia existe uma região chamada pelos indígenas de “Suu Ruu Birê”, a “Terra da Noite que Engole”, composta por gigantescas árvores milenares cuja densa folhagem bloqueia completamente os raios do sol.
É uma terra permanentemente mergulhada em escuridão, evitada pelos índios, por ser fonte de alguns dos seus mitos mais aterrorizantes, e pelos militares brasileiros e traficantes, por ser uma região de difícil acesso onde rádios e equipamentos eletrônicos não funcionam.
A ganância não impediu um grupo de adentrar este lugar estranho: biopiratas norte-americanos proliferaram explorando o desconhecido e rico ecossistema da região, e ao lado de cientistas descobriram uma mina de ouro em patentes de remédios e tráfico de animais silvestres. O livro começa com um misterioso prólogo que apresenta ao leitor criaturas sanguinárias que vivem na escuridão da região desde épocas imemoriais.
Enquanto a trama acompanha dois grupos de soldados em missões secretas, os americanos, motivados pela vingança após encontrar um acampamento de seus compatriotas completamente destruído e repleto de cadáveres despedaçados, e os brasileiros, também impulsionados pelo ódio da vingança após descobrir os restos mortais de uma patrulha em pedaços na região. Uma guerra está prestes a ser travada na escuridão, os dois grupos creditam os ataques um ao outro, mas o que não sabem é que os verdadeiros predadores aguardam nas sombras o momento ideal para se banquetearem após séculos de hibernação.
Assim tem inicio uma das maiores e mais brutais carnificinas da literatura brasileira. Escuridão é memorável por sua narrativa ágil, a curiosidade do leitor é capturada desde as primeiras páginas e saciada com vigorosas doses de sangue e morte ao longo do texto, a tensão é construída com maestria através de passagens repletas de ação e momentos de expectativa sufocantes.
Há um interessante e importante subtexto crítico nas entrelinhas, sobre a ganância e a exploração da sociedade em relação ao meio ambiente, muitas vezes impune pela falta de políticas públicas, e o autor dá voz e vida à natureza, que retribui o carinho da humanidade de forma tão mortal quanto.
Alexandre Moreira utilizou sua experiência como militar do exército para criar personagens críveis e interessantes, que com motivações distintas enfrentam o medo do desconhecido e descobrem a coragem ou a covardia no fundo de seus corações.
A ambientação na floresta amazônica é um dos pontos altos do romance, o imaginário coletivo é evocado com imagens exóticas e assustadoras, fazendo com que a beleza mortal da natureza seja um personagem à parte na história. A construção do mistério ao redor das criaturas também merece destaque, com uma mitologia verossímil e detalhes que vão sendo vivissecados aos poucos durante a trama, entrega antagonistas arrepiantes e verdadeiramente assustadores. Escuridão de Alexandre Moreira é meu livro nacional favorito de horror.
Escuridão (2003) | Ficha Técnica
Autor: Jorge Alexandre Moreira
Editora: Papel Virtual
Editora: Papel Virtual
Páginas: 220 páginas
Compre: Amazon
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)
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