Outsider apresenta ao leitor uma narrativa ao estilo Stephen King do velho testamento, com os típicos toques macabros do mestre do terror dos anos oitenta, que oferece um romance policial violento cujo mistério está envolto em uma trilha de cadáveres. O sobrenatural se imiscui sutilmente ao longo das páginas, o leitor é assaltado pela sensação de que alguma coisa se esconde nas entrelinhas, de que algo observa além da escuridão e cujo vislumbre macabro pode ser captado pelo canto dos olhos, em uma tensão crescente até a explosão de horror que transforma completamente a experiência da leitura na segunda metade do livro.
Stephen King constrói uma trama complexa, unindo um mistério instigante que desafia o leitor constantemente, reviravoltas esmagadoras dignas do autor que escreveu O Cemitério e um dos seus melhores vilões deste século: o Outsider, ou o Forasteiro. Com uma introdução insidiosa ao longo de toda a trama, o forasteiro é um dos seus vilões mais assustadores, daqueles cuja simples aparição em uma cena consegue arrancar arrepios do leitor.
Formado de maldade pura e com uma visão de mundo sanguinária e cruel é um vilão de King em sua expressão máxima e tem tudo para ser um dos vilões icônicos dessa nova fase do autor, tão horripilante e interessante quanto Pennywise e Randall Flagg. A habilidade de Stephen King como um contador de histórias mais uma vez surpreende, a construção de seus personagens é perfeita e com poucas páginas consegue fazer o leitor amar ou odiar com facilidade.
Ele não tem escrúpulos em construir uma cena emocionante e comovente em um capítulo, fazendo com que o leitor crie simpatia com determinado personagem para simplesmente matá-lo de uma forma cruel e dolorosa no capitulo seguinte. Mais do que protagonistas com profundidade, King mostra que ainda conhece a essência americana nos dias atuais e consegue delinear tão bem a mente de um homem de meia idade preocupado com o futuro de seu país como a cabeça de uma adolescente problemática em tempos de virtuais. E o melhor de tudo: ainda consegue criar monstros reais que assustam os dois.
Outsider mostra que sua escrita continua afiada e bem humorada, a exemplo das piadas dos próprios personagens sobre os acontecimentos da história estarem semelhantes a mecânica da caça ao monstro de Drácula de Bram Stoker. E se a comparação é válida, King guarda um crossover surpresa com Holly da trilogia de Mr. Mercedes surgindo como uma espécie de Van Hellsing e tendo um papel importante dentro da história. De modo que é recomendável a leitura da trilogia, pois Stephen King explora muito os acontecimentos desses livros.
A história de Outsider já começa brutal, o assassinato de um jovem e a profanação de seu cadáver horrorizam uma pequena cidade americana. Para a surpresa de todos as provas apontam como autor do crime um dos cidadãos mais respeitados da sociedade local: o técnico do time infantil de beisebol. O que se segue é uma vilipendiação de sua figura pública, em um tsunami de ódio que atinge até sua família, as provas de que cometeu o assassinato são sólidas, assim como seu álibi que o coloca a quilômetros de distância do local do crime.
O primeiro mistério que o leitor deve resolver é de como uma pessoa pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Conforme os policiais se aprofundam nas investigações descobrem que há muito mais sujeira e podridão por trás das vísceras e sangue que um primeiro olhar faz notar.
Outsider é uma das melhores obras da era moderna de Stephen King, com uma narrativa ágil, instigante e assustadora mostra que o "mestre do terror" ainda está em forma e presenteia os leitores constantes com uma história moderna e nostálgica. Se você é fã das histórias clássicas de Stephen King, encontrará um ninho de diversão e arrepios dentro dessas páginas.
Outsider (2018) | Ficha Técnica
Título original: Outsider (2018)
Autor: Stephen King
Páginas: 528 páginas
Tradutora: Regiane Winarksi
Editora: SumaPáginas: 528 páginas
8 Comentários
Oi Rafael, obrigada por mais uma resenha ótima e bem explicadinha. VIm conferir especialmente sobre esse livro porque ouvi dizer que precisava ter lido a trilogia BIll Hodges para ler ele e você me tirou a dúvida. VOu tentar ler logo o Mr. Mercedes porque esse aqui parece ótimo! Valeu!
ResponderExcluirJá leio as obras do King faz anos e gostei muito da sua resenha sobre o novo livro do mestre, porém tenho que discordar de alguns pontos. O livro é sem dúvida excelente como a grande maioria, mas não acho que ler a trilogia de Mr. Mercedes seja necessário, assim como quem lê os livros "A torre negra" não precisa ter lido seus outros livros, é uma obra fechada por si só. Ler os anteriores é só uma forma de pegar os "easter eggs", já que seu universo dele é gigantesco e ele gosta de referenciar a si mesmo. The Outsider é uma obra fechada por si só também, mas é interessante ver que os universos criado por ele continuam se misturando.
ResponderExcluirEu sinceramente gostei muito do shapeshifter criado por ele, porém a forma como eles enfrentam o forasteiro não me agradou, achei que a resolução foi muito rápida e simples, acredito que poderiam ter encontrado um pouco mais de dificuldade.
Enfim, o livro me agradou bastante e sua resenha foi bem interessante também =)
É isso!
Beijos
Me aventurei em escrever sobre o King também :)
https://medium.com/@thaisduran
Eu aconselho a ler a trilogia exatamente porque aqui King dá o desfecho dos personagens. A trilogia já não é um dos seus melhores trabalhos e um dos pontos altos dos livros é o desenvolvimento da Holly, que se inicia lá em Mr. Mercedes com aquele plot twist e termina exatamente neste livro. A experiência de leitura fica seriamente prejudicada ao meu ver, não exatamente no caso de Outsider, mas no da trilogia Mr. Mercedes, já que essa parte interessante do desenvolvimento da personagem não afetará o leitor, que conhecerá primeiro a "outra" Holly de Outsider. Mas é só uma indicação de ordem de leitura :)
ExcluirAcabei de ler e achei super insoso. E olha que tenho todos os livros e assisti 90% dos filmes baseados em suas obras. Pra mim o livro não tem suspense algum. De cara vc já sabe que caminho vai. Tirando a morte de Terry, o desenrolar e os personagens, inclusive o próprio Cuco são bem fraquinhos. E aquele eu te amo no final foi de rachar. Senti vontade de rir.
ResponderExcluireu li e achei um bom livro não daria 10, mas nota 8, acho que poderia ter um pouco mais de suspense. Mas o Mestre não desaponta.
ResponderExcluirA história policial até traz um certo suspense e desperta um pouco de curiosidade, mas o que de fato é assassino, não é muito bem explicado no livro. Uma coisa muito fantasiosa. É um livro que foge muito ao conceito da realidade. De 0 10 eu daria 5.
ResponderExcluiramei esse livro, é como se fosse dois livros em um.
ResponderExcluirComeça de um jeito e na metade se transforma em outro.
É meu preferido do King lançado nos últimos anos.
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