HEX de Thomas Olde Heulvet reimagina as clássicas histórias de bruxas e pequenas cidades amaldiçoadas para os dias atuais, com uma narrativa ágil e cheia de tensão, o autor inova ao fazer uma abordagem moderna de temas já conhecidos da literatura de terror. E como resultado essa nova perspectiva, além de adicionar várias camadas ao texto, atinge o leitor com mais profundidade por tratar de temas atuais, que geram grande identificação por sua semelhança com nosso dia a dia.
Um exemplo é a viralização de vídeos supostamente sobrenaturais, elemento presente nas redes sociais, mas ignorado na maioria das histórias contemporâneas de assombração. O primeiro grande acerto de HEX é a perspectiva sob a qual a história é narrada, ao invés da clássica visão do estrangeiro que entra em contato com uma comunidade fechada, é atormentado pela percepção de que há um segredo por trás da falsa sensação de normalidade, e que passa a história toda tentando descobrir o que está acontecendo, o autor opta por uma abordagem mais ousada.
A narrativa é feita do ponto de vista dos próprios moradores da cidade e acompanhamos os seus esforços para dissuadir os "estrangeiros" a ficarem em suas terras, bem como esconder a fonte de sua maldição. O horror não está nas aparições da bruxa, na verdade a população já está acostumada com a sua figura aparecendo dentro de casas ou no meio das ruas. E por mais que haja um medo primordial do que ela pode fazer, sua visão é encarada como banal.
Esse é o segundo ponto interessante acerca de HEX: a construção do clima da história. Se você acha que encontrará susto fácil nessas páginas está enganado, Thomas Olde Heuvelt acerta no tom narrativo ao apresentar vários núcleos de personagens com potencial para desencadear o horror. A leitura é permeada pela sensação sufocante de que alguma coisa de ruim está na iminência de acontecer, qualquer personagem pode ser o elo fraco que irá romper a calmaria e despertar a ira da bruxa.
A agonia está em descobrir qual deles será, conforme as páginas avançam e nos apegamos a determinados protagonistas, a inquietante sensação de que ninguém está salvo se solidifica e é assim que o autor nos prende em sua história. Em relação ao clima de tensão, a evolução da narrativa de HEX é similar a obras como Cerimônias Satânicas e O Homem de Palha, após um início misterioso e aparentemente inocente, temos um desenrolar cada vez mais agoniante até uma conclusão chocante e perturbadora. E poucas vezes esse tipo de narrativa termina feliz.
O terceiro ponto a ser destacado é a própria bruxa, Katherine Van Wyler, ou mitologia criada ao seu redor. Thomas Olde Heuvelt desenvolve com precisão sua personalidade, as histórias de suas maldições, de seus olhos e boca costurados e as monstruosidades que causou. Esses elementos que descobrimos ao longo da história são o que a tornam tão assustadora, por mais que em grande parte das cenas ela simplesmente fique aparecendo e caminhando ao redor da cidade, é o conhecimento dos horrores que ela pode causar que nos assusta.
Katherine é como uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer minuto e seu contato cada vez mais traumático com os núcleos de protagonistas é o início da catarse do leitor. O último ponto a ser destacado é a população de Black Spring e a forma como enfrenta sua maldição, o contraste entre o primeiro capítulo e a página final é gritante, o autor consegue desenvolver essas mudanças de forma verossímil e tecer várias críticas sociais no processo.
Conforme os eventos de desenrolam e a histeria começa a corroer as relações sociais, a loucura e o caos começam a brotar em meio a sorrisos tensos e cumprimentos forçados. Sua narrativa faz uma ótima análise da alma humana e sua índole perante a adversidade.
HEX é um grande livro pela forma como aborda temas clássicos, Thomas Olde Heuvelt conseguiu a partir de uma premissa simples criar uma sólida história de terror que funciona extremamente bem nos dias atuais. Mais uma vez a edição sombria da DarkSide é um complemento à experiência de leitura, suas páginas finais são uma explosão poética de violência e loucura, um livro que vai encantar até os leitores mais exigentes.
HEX (2018) | Ficha Técnica
Título original: HEX (2013)
Autor: Thomas Olde Heuvelt
Tradução: Fábio Fernandes
Editora: Darkside
Páginas: 368 páginas
Tradução: Fábio Fernandes
Editora: Darkside
Páginas: 368 páginas
2 Comentários
Ótima resenha, Rafael.
ResponderExcluirEsse livro tomou a dianteira dos melhores da Darkside, sem dúvidas. O livro é viciante, tenso, cruel e tocante.
ResponderExcluirGostei demais e já me sinto órfão depois que terminei a leitura.