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Resenha | Herdeiros de Drácula, org. de Richard Dalby


Herdeiros de Drácula é muito mais que uma simples coletânea de histórias de vampiros, é praticamente um documento histórico que exemplifica a linha temporal da evolução do mito do vampiro e do imaginário humano acerca da grande incógnita que é a morte.

O vampiro como conhecemos nos dias hoje ataca à noite, geralmente quando suas vítimas estão dormindo, ele teme o alho e a cruz e tem uma aversão mortal à luz do sol. De dia permanece em seu próprio caixão ou algum tipo de recipiente que contenha terra de sua sepultura, sua tez é pálida, com longos caninos pontiagudos e lábios vermelhos, e suas mãos geladas terminam em grandes unhas amareladas. Algumas narrativas ainda afirmam que um vampiro pode se transformar em névoa, rato, lobo ou morcego, além de ser capaz de se comunicar com esses animais através de telepatia. 

Poder este que se entende às pessoas obrigando-as a fazer aquilo que comanda, responsável também por causar um torpor na vítima durante sua alimentação, que consiste basicamente numa erótica aspiração da substância vital de todo ser humano: o sangue. A imagem do vampiro moderno foi cristalizada e imortalizada por Bram Stoker em seu clássico Drácula de 1897, esta não a foi a primeira história sobre vampiros, mas foi aquela que melhor organizou as várias lendas tradicionais que eram passadas de geração em  geração pela Europa. Lendas sobre criaturas que voltavam dos mortos para afligir os vivos.

A verdade é que Bram Stoker se baseou em vários relatos e histórias de outros autores que exploraram o tema antes dele e que hoje jazem desconhecidos por causa do brilho fulgurante de Drácula. Escritores que beberam muito mais da fonte mitológica do vampiro e criaram versões completamente diferentes daquilo que conhecemos na atualidade. Um exemplo é A Árvore Assassina de Phil Robinson, de 1881, um dos primeiros contos do gênero a falar sobre plantas que se alimentam de sangue. Ou ainda A Parasita de Sir Arthur Conan Doyle, uma história clássica de vampirismo psíquico.

Richard Dalby retira estas histórias do esquecimento de seus túmulos e faz um grande panorama da literatura vampírica em seus primórdios, explorando não apenas autores que vieram antes de Drácula, mas também aqueles que sofreram forte influência de sua publicação, os Herdeiros de Drácula. O diferencial desta antologia se encontra no cuidadoso processo de seleção, seus vinte cinco contos são raros ou pouco conhecidos, escritos entre 1867 e 1940 por autores como M. R. James, Algernoon Blackwood, Sir Arthur Conan Doyle e outros desconhecidos do público brasileiro como William Gilbert, Vasile Alecsandri e Mary Chomondeley. 

Herdeiros de Drácula foi publicado originalmente em 1987 e a edição comemorativa de 120 da publicação de Drácula da HarperCollins Brasil possui capa dura e uma diagramação de miolo completamente estilizada com ilustrações e artes do gênero. É um livro feito para durar décadas. A leitura além de prazerosa é instrutiva, muitas obras contemporâneas tem raízes nessas narrativas, Richard Dalby antes de cada conto oferece uma pequena biografia do autor e de sua obra, contextualizando sua influência a Stoker. 

Um exemplo é um conto de 1888: O Mistério de Ken de Julian Hawthorne, filho de Nathaniel Hawthorne e amigo de Bram Stoker, cuja protagonista, uma vampira irlandesa, certamente teve grande influência na criação do conde Drácula. Herdeiros de Drácula é um livro que todo o fã de literatura de terror, especialmente do subgênero dos vampiros, deveria ler. 

   
  Herdeiros de Drácula (2017) | Ficha Técnica 
   Título original: Dracula's Brood: Neglected Vampire Classics (1987)
   Organizador: Richard Dalby
   Tradutores: Flora Pinheiro e Mariana Kohnert
   Editora: HarperCollins Brasil
   Páginas: 528 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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