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Resenha | O Clube do Fogo do Inferno de Peter Straub


"Positivamente, o melhor livro que Peter Straub já escreveu. Por sí só, Dick Dart já vale o preço do ingresso: ele é um personagem fabulosamente original... Embora O Clube do Fogo do Inferno rode à velocidade de um trem expresso, o livro é sério em sua essência sendo uma excelente leitura." Stephen King

"O Clube do Fogo do Inferno é um romance generoso, rico em seu perfil, voluptuoso como história contada, animado pela solidariedade e por um perigoso humor. Amei-o e admirei-o." Donald E. Westlake

"O Clube do Fogo do Inferno é um romance infernal. Peter Straub fez um brilhante trabalho, ao criar dois personagens inesquecíveis: uma mulher espetacular e um monstro horripilante. Uau, cheguei a perder o sono quando li o livro!" Susan Isaacs

"Este é o romance mais assustador, sanguinolento, horripilante, nauseante que li em cerca de dez anos. Ele me deixou com medo de ir dormir a noite, e adorei cada palavra sua - Adorei, adorei, adorei." Carolyn See

"O Clube do Fogo do Inferno é a literatura mais absorvente de Peter Straub. Ele explorou as mais sombrias regiões da psique humana para produzir Dick Dart que, tão cândido e persistente em sua malignidade,  mostra um novo gênero de vilão, alguém para quem termos como satânico, depravado e malévolo parecem açúcar. Este é um pungente e enfeitiçante romance." Bradford Morrow

The Hellfire Club, O Clube do Fogo do Inferno, famoso no século XVIII na Inglaterra, era um clube privado onde a aristocracia da época tinha liberdade para realizar seus fetiches e perversões, sua popularidade provém das grandiosas orgias que eram realizadas em suas reuniões, regadas a muito álcool e drogas, não havia limites para os atos praticados por seus "sócios" e toda essa depravação deu início a comentários, sussurrava-se que além da libertinagem, cultos satânicos e rituais de magia negra eram práticas comuns.
 
O interessante é que as reuniões ocorriam em uma abadia. Séculos mais tarde, o termo Hellfire Club passou a ser utilizado para designar as casas de swing e é entre os gemidos de prazer e dor de um desses locais que a estória de Peter Straub começa. O Clube do Fogo do Inferno é talvez um dos livros mais intrincados do autor, é difícil definir um momento no qual a estória realmente começa, não pense na obra como um livro de seiscentas páginas, pense em nove livros diferentes que formam uma única e grandiosa obra de seiscentas páginas. 

E por isso escolhi a cena do clube em particular como ponto de partida para a minha resenha, que é onde surge pela primeira vez uma explicação detalhada do livro a Jornada da Noite. São vários os pilares que sustentam a narrativa e a estória por trás de a Jornada na Noite é um dos mais interessantes, o livro foi escrito pelo até então desconhecido Hugo Driver em um retiro especial para escritores, no qual o isolamento era o segredo da inspiração para as obras dos autores que se hospedavam nos chalés.  

Na época que Driver passou no retiro havia mais cinco pessoas fixas por lá, uma autora de poemas que durante a estadia desapareceu para jamais ser encontrada, dois outros escritores acabaram cometendo suicídio pouco tempo depois de saírem de lá, a dona do retiro entrou em depressão e deixou o local definhar até seu fechamento anos depois e o último era o editor que publicou seu livro e mudou a vida de todos. Jornada na Noite acabou se transformando em uma trilogia e tornou-se fonte de fascínio e obsessão para um nicho de leitores, que criaram clubes para discutir os sentidos e significados das alegorias da obra.

O livro fala sobre um menino que sucumbiu a uma doença e acordou em um mundo sombrio e obscuro onde inicia uma jornada em busca de respostas. Davey Chancel é filho do editor original e para salvar a editora e seu emprego busca encontrar o manuscrito original para a publicação de uma nova edição especial. O Clube do Fogo do Inferno começa mostrando o dia-a-dia de Davey Chancel e sua esposa Nora, um casal de meia idade com o casamento em crise. 

Straub se utiliza das primeiras cem páginas para definir a situação emocional e psicológica dos dois, a relação capenga diante dos problemas familiares e profissionais de Davey que  busca independência no emprego mas sem sair da asa do seu pai, dono da editora. A crise do casal piora quando uma casa na vizinhança é atacada, supostamente pelo monstro local Dick Dart, e a moradora é sequestrada. Nora sente-se insegura, seu próprio marido não lhe traz segurança e fica ao lado da família em questões que ambos deveriam concordar.

O conhecimento dessas questões é importante para o que vem depois e justifica as ações de Nora. A narrativa nesta seção do livro é bastante arrastada, não por não ser fluída, Straub constrói o texto com agilidade, mas a proporção de informações é obsessivamente detalhista e que tipo de leitor moderno, cujo tempo significa dinheiro e cuja parcela reservada para a leitura é diminuta, gostaria de ler uma descrição gigantesca de um jantar que abrange mais de 30 páginas? Esse é um dos principais motivos para os leitores renegarem a obra do autor. 

Straub tem um ritmo próprio de escrita onde à estória só avança a partir do momento em que ele fala tudo o que tem para dizer sobre o assunto, é um tipo de narrativa que preza mais o conteúdo e não se preocupa com a velocidade da leitura. Por efeito é um livro que nada contra a corrente atual dos thrillers de uma noite só, livros de texto fácil com tramas que o leitor devora ao longo de poucas horas. Não me leve a mal, eu também adoro este tipo de estória, mas às vezes sair da zona de conforto e tentar algo mais pesado, na questão de profundidade de trama e narrativas, é tudo o que um leitor precisa. 

Se uma semana após ler os thrillers modernos você já começa a esquecer de detalhes e traços de protagonistas, nos livros de Peter Straub acontece o contrário, suas criações são tão marcantes que são eternas. E em O Clube do Fogo do Inferno há seu vilão mais inesquecível, Dick Dart. E é nesse ponto que passamos para o segundo ponto de sustentação de narrativa. "A diferença entre nós dois é que, quando você chama alguém de louco, acha que é um insulto, ao passo que eu encaro isso como um elogio." Esse é um exemplo das antológicas frases de Dick Dart. 

Um homem que considera as palavras cruel, pervertido e assassino como qualidade e é um dos serial killers mais assustadores da literatura, não pelo seu aspecto físico, na verdade ele poderia ser seu vizinho ou o cara que te cumprimenta todo o dia no caminho para o trabalho, mas sim pela sua aceitação da violência como atitude básica humana. É difícil tentar explicar o quão filhodamãe o personagem é, porque as coisas que o diferem de um ser humano  "normal" estão nos pequenos detalhes do dia-a-dia. Dick Dart é que faz a leitura valer a pena. Dick Dart é o que transforma o livro em inesquecível. E Dick Dart é o motivo para eu não indicar o livro a qualquer pessoa.

Esta foi minha segunda leitura de O Clube do Fogo do Inferno e foi muito melhor do que a primeira. Mas a questão é que a estória não é para todos. Quem é fã de Peter Straub e conhece seu lado sobrenatural em Os Mortos-Vivos, Talismã e A Casa Negra vai se sentir completamente intimidado pela abordagem realista deste livro. Straub não é um autor que sugere uma cena de horror ou tenta chocar com os detalhes sangrentos da estória, ele simplesmente narra metodicamente os acontecimentos, independente de ser um sorriso apaixonado ou a sistemática vilipendiação sexual de um cadáver. 

Todas as ações são tratadas como normais em sua narrativa, dentro do contexto insano em que são inseridas, para Dick Dart, o estupro, o assassinato são cotidianamente banais e merecem pouca atenção, as descrições de suas cenas são as melhores e as piores dependendo de seu ponto de vista. É preciso enlouquecer para entender a loucura.

O Clube do Fogo do Inferno é um livro pesado, venenoso e cruel, há passagens tão rápidas como um ataque fulminante do coração e outras que se arrastam com o marasmo de uma lesma,  mas é na forma como se completam no grande mosaico geral da obra que reside a geniosidade de Straub, no momento em que você espera que algo cruel e sangrento ocorra, é surpreendido com uma cena completamente diferente, mas com um desfecho tão chocante, que é como se o autor tivesse derramado litros de sangue nas páginas, do mesmo modo quando você menos espera ocorre um assassinato tão impressionante e brutal que tem a mesma força que aquele corte de câmera dos filmes de terror. 

É difícil definir a obra nos parâmetros normais, há toques de terror, suspense, romance, que são nada menos que flertes perigosamente enganadores. É um livro que exige paciência em alguns trechos e compensa isso com ótimas cenas, mas não crie expectativas para leitura porque será diferente de tudo o que você possa imaginar. Dito isto, este não é um livro que você escolhe e sim o contrário, a partir do momento que o conhecimento e curiosidade sobre ele invadirem sua mente e alcançarem níveis dolorosos estará pronto para embarcar nessa jornada. É um livro que demorei anos para criar coragem para ler, as opiniões negativas me desanimavam, e demorei muito mais para reler. 

E não me arrependo disso, dois momentos diferentes da minha vida trouxeram visões diferentes da obra. A primeira leitura foi boa e a segunda interessante, mesmo não recebendo dez caveiras O Clube do Fogo do Inferno entrou para a minha lista de favoritos. Agora desafio você a ler o livro e tentar dar um sentido aos pedaços da narrativa que decidi abordar, assim você entenderá as referências e entenderá porque comecei como comecei. Por fim, sem mais delongas, tenha muito cuidado com este livro.

   
 O Clube do Fogo do Inferno (1997) | Ficha Técnica 
   Título original: The HellFire Club (1996)
   Autor: Peter Straub
   Tradutora: Luiza Ibañez
   Editora: Bertrand Brasil
   Páginas: 598 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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