O fim do mundo não será tão dramático para começar com uma grande explosão ou tão poético para acabar com um simples suspiro. Não serão zumbis, catástrofes naturais, invasão de seres do espaço, vírus mortais, armas biológicas ou uma rebelião de máquinas com inteligência artificial os causadores da nossa derrocada, mas sim nós mesmos.
Em Cyberstorm, na sociedade atual gerida e controlada pela tecnologia, o fim do mundo começará com o suave piscar de uma lâmpada, em pico de energia, que irá prenunciar a ascensão da escuridão primal. O apocalipse irá começar com uma tempestade cibernética. A tecnologia é tão inerente à sociedade atual que a sua falta produz efeitos catastróficos no nosso dia-a-dia, todas as relações de importância, desde uma simples comunicação até grandes transferências monetárias, ocorrem no mundo virtual, de modo que se você não está online, não está em contato com o mundo.
Na geração passada estar informado era acordar cedo e ler o jornal do dia anterior, hoje a informação está nas pontas de nossos dedos, nas redes sociais, blogs e sites jornalísticos sendo noticiada praticamente no momento em que está acontecendo. Não se pode negar os benefícios e facilidades que a tecnologia produz na nossa vida, mas será que essa dependência extrema é benéfica? Esse é o questionamento de Cyberstorm de Matthew Mather. Qual a primeira coisa que você pensa quando acaba a luz em sua casa? Ou quando fica sem internet?
Em Cyberstorm um vírus de computador desconhecido ataca os servidores de internet em escala mundial, causando grandes problemas nos meios de comunicação com a oscilação da internet, qualquer serviço que subsista através de um sistema online é afetado, desde o funcionamento de semáforos até o de equipamentos vitais em hospitais.
O caos se instala quando é emitido um alerta sobre uma possível epidemia de gripe aviária e logo após o fornecimento de energia elétrica é cortado. A natureza é mais um agravante a situação, uma tempestade de neve de proporções bíblicas ameaça o horizonte, com isso surge o desespero, o prenúncio de um isolamento causado pela nevasca levanta a questão essencial da vida, sobrevivência. Centenas de anos de evolução social são esquecidos em um piscar de olhos quando a sobrevivência é posta em questão. Saques. Roubos. É apenas o início da destruição.
O que diferencia Cyberstorm dos romances apocalípticos atuais é a abordagem pessoal de sua narrativa, o leitor não é colocado como um observador onisciente que consegue ver o quadro geral da destruição, mas partilha da ignorância dos protagonistas com relação ao que está acontecendo. Quando se trata de um livro sobre zumbis ou armas biológicas sabemos o que esperar, mas em um apocalipse cibernético é impossível imaginar a reação das pessoas.
A interrupção do fornecimento de luz elétrica e água aliadas a falta de informação é um elemento poderoso no psicológico coletivo, podemos dizer que o êxito da vida em sociedade começou quando o homem conquistou a escuridão da noite através do fogo, e mais tardiamente com a eletricidade. Mas e se isso for tirado de nós? E se a noite voltar a ser fonte de medo e insegurança? A verossimilhança faz o leitor cativo da narrativa.
Cyberstorm seria o livro perfeito senão fosse um romance tão americanizado, praticamente é possível enxergar a marca d'água da bandeira americana através das linhas, a estória é fruto da mentalidade nacional de que cada país do planeta é um inimigo em potencial. É interessante como o autor explora essa histeria coletiva nos diálogos, o 11 de Setembro afetou tanto a maneira de pensar dos americanos que ao invés de buscar uma solução para os problemas, o foco deles é em descobrir o inimigo e fazer a correta retaliação que o orgulho americano exige.
O êxito da narrativa está na universalidade com que explora o espírito humano com relação a sobrevivência, por mais amplos que sejam os temas das estórias apocalípticas no fim tudo se resume a sobreviver, atingindo com perfeição questões morais através de uma ótica intimista e pessoal. Até onde você iria para sobreviver e proteger sua família?
Cyberstorm é uma reflexão acerca do homem e de suas esperanças, Matthew Mather utilizou sua experiência em segurança virtual para criar um thriller assustador e ágil, que mistura cenas de tensão e horror com diálogos memoráveis.
Cyberstorm (2015) | Ficha Técnica
Título original: Cyberstorm (2013)
Autor: Matthew Mather
Tradutora: Carolina Caires Coelho
Editora: Aleph
Páginas: 368 páginas
Compre: Amazon
Nota:☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠(10/10 Caveiras)
2 Comentários
Ler essa sua resenha fantástica só fez aumentar minha vontade de ler o livro! Parabéns!
ResponderExcluirAbraços!
www.bravuraliterariablog.blogspot.com.br
Quase no final do livro, estou "engolindo" as paginas.
ResponderExcluirSimplesmente sensacional!
Mike é O cara!