Na década de sessenta grandes clássicos da ficção científica foram produzidos, com a era espacial surgindo no horizonte e a promessa dos primeiros passos do homem na Lua, não apenas os olhos, mas a imaginação humana estava voltada para o espaço. Nomes como Philip K. Dick, Kurt Vonnegut, Robert A. Heinlen e Frank Herbert exploravam os limites que o gênero poderia produzir com a criação de novos temas e a reformulação radical de antigos parâmetros, era uma época que não havia limites para a coragem do homem e os segredos do espaço eram apenas mais um desafio a ser conquistado.
Que tipos de mistérios existiam além do brilho das estrelas? Será que há outros mundos com condições que propiciem a vida? Estamos sozinhos no espaço? Para responder a essas e outras questões os escritores lançavam mãos de todos os artifícios da ficção científica, assim como pequenas doses de fantasia e horror para causar os efeitos desejados, sem nunca perder uma oportunidade para fazer críticas e sátiras sociais.
O escritor francês Pierre Boulle é um dos nomes dessa lista que após o grande sucesso do livro A Ponte do Rio Kwai, cuja adaptação cinematográfica lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, decidiu se embrenhar pelos caminhos da ficção científica. A ideia para O Planeta dos Macacos surgiu durante uma visita ao zoológico, Boulle ficou impressionado com as expressões quase humanas que os gorilas exibiam e o modo como estavam presos em suas jaulas rodeados por pessoas que gritavam e lhes atiravam pedaços de comida, fez com que refletisse nas diferenças que definiam homens e animais, estava claro que a situação em que se encontrava o gorila o deixava triste.
E se ele pudesse se comunicar? O que diria para seus tiranos mestres humanos? Rebelar-se-ia? Sua natureza animal venceria a intelectual? Na trama de O Planeta dos Macacos, a humanidade avançou em suas descobertas tecnológicas a ponto de vencer as grandes distâncias cósmicas que separavam as constelações. Uma viagem espacial que antigamente duraria mais de 700 anos para se concretizar agora pode ser realizada em menos de 3 anos, isto na percepção dos astronautas, pois na Terra o tempo de duração da exploração não seria alterado.
No ano de 2500 uma expedição é organizada em direção ao planeta Betelgeuse, liderada por um renomado professor, a tripulação também é formada por seu pupilo aprendiz, um jornalista que registrará cada detalhe da aventura e um simpático símio explorador. A viagem transcorre sem maiores percalços e logo os desbravadores espaciais se veem na órbita de um mundo com uma atmosfera parecida com a da Terra. A descida ao planeta confirma as expectativas, fauna e flora são praticamente exatas à terrestre, inebriados com a grandiosidade da descoberta, os protagonistas iniciam a exploração local.
A primeira grande surpresa com que se deparam é a descoberta de seres humanos vivendo naquele longínquo planeta, mas há algo de estranho em suas atitudes, seu porte e estado de nudismo refletem uma natureza análoga a animais desprovidos de inteligência, não conseguem entender uma palavra que lhes é dirigida e se comunicam através de uma vocalização gutural semelhante aos macacos da Terra. Desconcertados com a descoberta os visitantes tem suas crenças confrontadas com um horror profundo e desesperador, os seres humanos naquele planeta não são civilizados e não são a raça dominante do planeta, esse papel é relegado a imensas criaturas simiescas que são iguais a eles em todos os aspectos, exceto físico. Eles estão no Planeta dos Macacos.
Pierre Boulle possui uma escrita simples e concisa, sem grandes floreios seu texto é enxuto e informativo, a narração em primeira pessoa é mais intimista e consegue atingir o leitor com mais profundidade e propriedade que um narrador observador, colocando-o dentro da história em uma relação empática com o protagonista que ultrapassa o simples papel. Desde as primeiras páginas a história consegue alimentar a curiosidade do que acontecerá a seguir e suprir as expectativas durante a leitura, mesmo quem conhece as versões para o cinema da história se sentirá surpreso com os acontecimentos do livro, que além de tomarem rumos diferentes e possuírem um tom mais crítico, possui um final de explodir cabeças.
A edição da Editora Aleph está impecável, a diagramação diferenciada é acompanhada de uma nova tradução atualizada e anexos que tornam a experiência com a leitura ainda mais imersiva. O livro também traz uma entrevista com o autor feita em 1972 no qual o mesmo discorre sobre a história e suas adaptações cinematográficas, um ensaio da BBC falando sobre o passado como espião francês de Boulle durante a Segunda Guerra Mundial e a influência disso em sua obra, além de um texto do pesquisador de literatura fantástica brasileiro, Bráulio Tavares que analisa a história da ficção científica francesa através de O Planeta dos Macacos.
O Planeta dos Macacos (2015) | Ficha Técnica
Título original: Planet of the Apes (1963)
Autor: Pierre Boulle
Páginas: 216 páginas
Tradutor: André Telles
Editora: AlephPáginas: 216 páginas
1 Comentários
Estou louca por esse livro desde que a Aleph divulgou essa capa LINDA digna dessa história clássica <3
ResponderExcluirAcho engraçado que tem gente que acha que ficção cinetífica tem uma linguagem complicada (talvez por a maioria ser considerado livros clássicos... ?), sendo que todos que eu li até agora foram bem como você falou, uma linguagem simples.
Ótima resenha, Rafa!
Beijos
Um Metro e Meio de Livros