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As Melhores Histórias de Apocalipse da Literatura de Horror e Ficção Científica

   O meu primeiro contato com a premissa geral do apocalipse foi através do filme Os Pássaros de Alfred Hitchcock, a ideia de pássaros atacando seres humanos com uma violência sanguinária marcou profundamente minha mente infantil na época. Foi quando eu tive a grande revelação de que a morte não era a pior coisa que poderia acontecer com alguém, o mundo poderia acabar de maneiras tão terríveis e atrozes que nossa sociedade iria regredir a algo primitivo.  Lembro que nessa mesma época, com a proximidade dos anos 2000, as previsões do fim do mundo alcançaram um nível histérico e mesmo que hoje as lembranças pareçam engraçadas, na época eram o horror supremo para a cabeça de uma criança. Meu maior pavor era com relação à teoria que falava sobre a morte do sol, de como ele se apagaria e toda a luz do planeta acabaria, de como viveríamos na mais completa escuridão, logicamente cercados pelos monstros que surgiriam das sombras e que antes temiam a luz do sol. 
   Quando cresci esse medo se transformou em curiosidade e logo me tornei um ávido leitor de livros apocalípticos, a destruição do mundo e maneira como as pessoas encaram o fato até hoje consegue me absorver completamente, por isso fiz uma pequena lista com algumas das obras que eu mais gosto divididas em tópicos. Há alguns livros que servem a dois ou mais subgêneros que serão citados aqui, porém mesmo com temas parecidos o que levei em consideração foi a maneira como a população é dizimada, sendo que as mutações e eventos que possam a surgir um efeito secundário do mesma. Espero que consiga encontrar boas indicações por aqui.

Vírus Mortais e Doenças Altamente Contagiosas
   A própria natureza se encarrega da destruição da humanidade em Só A Terra Permanece de George Stewart, na história o autor cita vários exemplos de seres vivos que excederam em número o espaço de seu próprio habitat, tornando-se predadores altamente destrutíveis, de modo que para que a biodiversidade se estabilize é necessária uma intervenção da própria mãe natureza. Que neste caso se manifesta na forma de uma gripe altamente contagiosa e mortal que dizima mais de 99% da população. Doença esta que também serviu de base para o apocalipse em A Dança da Morte de Stephen King, com a variação de que o vírus é criado pelo homem e acidentalmente liberado na atmosfera  mas com efeitos tão catastróficos quanto. Em ambos os livros há a exploração do fim da população e do mundo, porém o foco é na reconstrução da sociedade e em como as pessoas reagem a situações extremas.
   Richard Matheson foi um dos precursores da literatura apocalíptica e fonte seminal na criação dos zumbis modernos através de seu livro Eu Sou A Lenda. Uma pandemia atinge a população de uma forma extremamente violenta, os sintomas da doença se assemelham ao vampirismo, os infectados agem de maneira psicótica contaminando todos ao seu redor espalhando rapidamente a mazela. A história foca na sobrevivência de um homem, o último homem da Terra, em um mundo dominado pelos vampiros. Os seres hematófagos também são os protagonistas da Trilogia A Passagem de Justin Cronin, na qual um vírus semelhante também destrói a humanidade, a inovação da história está em abordar a sociedade que surgiu dezenas de anos depois em meio aos vampiros. Guillermo Del Toro e Chuck Hogan também se utilizam dos vampiros para destruir o mundo em A Trilogia da Escuridão, misturando ciência e misticismo numa combinação viciante.  M. R. Carey também apresenta um gatilho inovador para o apocalipse em A Menina Que Tinha Dons, o Ophiocordyceps Unilateralis, uma espécie de fungo que realmente existe na natureza e ataca o sistema nervoso das formigas transformando-as em zumbis. Imagine se o fungo se torna parasita de seres humanos? 


Armas de Destruição em Massa e Guerras Biológicas
   A Guerra Fria produziu uma grande cota de obras literárias baseadas no sentimento de horror da época, a de que em qualquer momento, sem nenhum aviso prévio, uma grande guerra atômica poderia liquidar com a vida na Terra. O livro que melhor transcreve esse sentimento é Um Cântico Para Leibowitz de Walter M. Miller Jr., a humanidade é despedaçada pelo horror das grandiosas armas de destruição em massa e nos destroços os sobreviventes perecem ante ao caos que se segue à aniquilação, porém uma pequena ordem de monges tenta guardar a sabedoria acumulada até então pelos homens, para que quando a época de trevas acabar o conhecimento possa ser a base de sustentação da nova sociedade. A máxima exposta pelo autor no final da obra é o que torna o livro uma obra-prima. 
  O Circo Mecânico Tessaulti de Genevieve Valentine também se aproveita deste mesmo cenário de desolação para narrar às aventuras de uma trupe circense que circula pelos cacos de uma sociedade pós-apocalíptica. Mas poucos livros alcançam o nível de desespero que Cormac McCarthy em A Estrada. Em um mundo totalmente devastado, no qual cidades são pouco mais que ruínas empoeiradas e as florestas viraram cinzas carbonizadas, um homem e seu filho estão em uma eterna jornada em pela sobrevivência, esfarrapados e esfomeados são o reflexo do que a humanidade se tornou, com comida escassa e artigos essenciais se deteriorando o maior medo não são os ladrões e assassinos que espreitam a cada esquina, ou mesmo os canibais de tocaia em cada sombra. O maior medo é a solidão. 


Rebelião de Máquinas e Inteligência Artificial
  Quando o assunto é esse a primeira coisa que vem a cabeça é O Exterminador do Futuro com suas previsões cruéis para o destino que aguarda a humanidade, a Editora Darkside está lançando a adaptação literária do filme e as expectativas para o lançamento são altas. O próprio tema da Rebelião de Máquinas exige uma incursão ao fantástico mundo futuro da ficção científica, para nos guiar ninguém melhor que o grande Philip K. Dick, sem sombra de dúvidas o maior visionário que o gênero produziu. Destaque especial para seu conto, Segunda Variedade, que pode ser encontrado na coletânea Realidades Adaptadas da Editora Aleph, que serviu de base para o filme Screamers - Assassinos Cibernéticos. Na história a humanidade produziu robôs para lutarem suas guerras, pequenas e mortais máquinas que evoluíam à medida que o inimigo também se atualizava. A inteligência artificial foi criada para se auto aperfeiçoar ao longo da guerra, mas de alguma maneira acabou adquirindo consciência e decidiu que aquela guerra devia acabar. Para que o feito seja concluído é preciso acabar com a fonte de todo mal, a humanidade.
   Máquinas Que Pensam é uma coleção de contos organizada por Isaac Asimov, Martin Greenberg e Patrícia Warrick que é obrigatória para quem é fã de robôs e quer se aprofundar nas histórias clássicas que marcaram o gênero nos séculos passados. Harl Vincent está presente com o conto Rex, onde a humanidade decaiu na luxúria da preguiça e se utiliza dos robôs para realizar todo o tipo de tarefa que requer esforço físico. A criação maior é Rex, o robô rei que é responsável pela manutenção de seus semelhantes, mas ninguém imaginava que uma pequena falha na última camada de elétrons de seu cérebro positrônico faria com que ele criasse consciência. O que Rex viu, feriu seus "sentimentos", sua raça escravizada por seres que tão inferiores em poder. Era o princípio de uma revolução. A única tradução de Harlan Ellison que podemos encontrar para português também está presente nesta coletânea, Eu Não Tenho Boca e Preciso Gritar, uma das histórias mais assustadoras sobre a dominação das máquinas já escrita.  AM é um super computador que se tornou consciente e resolveu destruir a humanidade por ter sido criado apenas com o objetivo de ser um serviçal, em sua sede de vingança conservou um pequeno grupo de seres humanos, os quais tortura com um requinte de crueldade que ultrapassa qualquer maldade que nossa mente possa conceber. É angustiante.

O Apocalipse Zumbi
   Os mortos-vivos invadiram a literatura de horror para se tornar o apocalipse mais desejado pelos leitores e fãs. Os zumbis modernos saíram da mente de George Romero no final da década de sessenta na forma do clássico A Noite dos Mortos Vivos, releitura do mito haitiano que modificava a crença de que os zumbis eram criados por magia e os transformava no mito tão popularizado nos dias de hoje. Robert Kirkman é um dos grandes responsáveis por esse fenômeno através da HQ e série de televisão The Walking Dead, posteriormente foi transformada em uma saga de livros mas sendo apenas o primeiro, A Ascensão do Governador, digno de nota. Stephen King também se aventurou no tema com Celular, história em que os humanos são transformados em zumbis após um estranho surto ocasionado por interferências em celulares, diferente de todos os estereótipos suas criações possuem resquícios de inteligência.  
   Uma das melhores trilogias sobre mortos-vivos é Apocalipse Z de Manel Loureiro, o escritor espanhol cria uma história crível e com linguagem extremamente didática sobre o apocalipse através dos dentes destas criaturas. O representante brasileiro deste subgênero é Tiago Toy com Terra Morta, sua trilogia que se passa em um cenário nacional com grandes influências dos maiores clássicos da mitologia dos zumbis. Uma visão interessante do apocalipse zumbi é a criada por Peter Clines em Ex-Heróis, no qual insere os monstros canibais em um universo onde existem humanos com superpoderes. 


Cthulhu Mythos 
  H. P. Lovecraft é um dos maiores escritores de horror de todos os tempos, sua grandiosa mitologia adquiriu vida própria e é tem continuidade na forma de inspiração para outros autores que se aventuram a adentrar seus sombrios domínios desafiados a descrever as horripilantes visões sem perder a sanidade. A iminência de um apocalipse é algo presente em grande de suas histórias, os deuses antigos se acordados ou invocados trarão destruição para a humanidade. Gabriel Réquiem com O Último Evangelista e Guilherme Solari com Quando os Pesadelos Acordarem são autores nacionais que beberam da fonte de Lovecraft como inspiração na criação de suas obras. 

Invasões Alienígenas e Eventos Cósmicos
  Os alienígenas também tiveram sua cota de aparições e histórias em que traziam consigo a destruição da humanidade. Guerra dos Mundos de H. G. Wells é uma das primeiras incursões a dominação vinda do espaço, grandes máquinas descem dos céus e ameaçam a vida humana em uma Inglaterra do Séc. XIX. Então em meados dos anos cinquenta, naves espaciais e seres monstruosos se tornaram clichês, Jack Finney  idealizou Os Invasores de Corpos, onde os extraterrestres ao invadir nosso planeta assumiam a forma humana de uma maneira tão perfeita que apenas os mais íntimos conseguiam sentir alguma diferença, que não estava na aparência física mas sim em pequenos atos insignificantes do dia-a-dia. Robin Cook readaptou a história mais tarde em seu romance Invasão, inserindo elementos tecnológicos na batalha da humanidade. John Wyndham é outro autor que aborda a invasão de maneira sistemática e didática em A Ameaça do Fundo do Mar, novela no qual os seres do espaço começam a cair no meio do mar, nas águas mais profundas do oceano, após um período de calmaria iniciam seu ataque a Terra.

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8 Comentários

  1. Nem sei por onde começar a comentar, rs.

    Enfim, fiz um evento falando do livro Eu Sou a Lenda, esse livro é um marco na história da literatura, um divisor de águas (ou de sangue). E fiquei muito feliz em saber que será relançado este ano!! Tô comemorando isso!!

    Já li alguns dos livros citados, outros eu já tenho, mas não tive tempo ainda de ler, e outros estão na lista de desejados!!

    Adorei o post.

    bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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  2. Li alguns destes e tenho alguns outros. Este tema acho muito interessante. Me interessei por A Estrada, que não tenho. Excelente post mais uma vez.

    bomlivro1811.blogspot.com.br

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  3. Nossa, adorei o post. Tem livro aí que não conhecia e vou procurar. Que edições de H.P. Lovecraft você recomenda? Andei dando uma olhada nas disponíveis, mas umas parecem ser edições muito simples, outras reclamam da tradução... estou meio sem saber quais comprar.

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  4. Acho que A Estrada foi o livro e filme que mais me deixaram para baixo. E é um tema muito ousado, por canibalismo mexe com muitas coisas, em especial com a nossa zona de conforto.

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  5. Ótimo post, pra variar. Gosto do tema, da ideia disso tudo acabar. Dentre todos, apesar do gancho religioso, ainda fico com The Stand. A santidade de um vírus invencível, fabricado por nós mesmos... Será que não merecemos?

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  6. Olá Lúcia, particularmente eu gosto muito das edições da Editora Iluminuras das obras de H. P. Lovecraft, acho que elas são mais completas que as da Hedra que possuem pouquíssimas páginas em comparação. O interessante é que a Iluminuras está relançando os livros do Lovecraft em edições que parecem estar lindas :)

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  7. Baita post, Sybylla!

    Desses, o que mais me deixou para baixo também foi A Estrada. Eu não sabia muito sobre o livro quando peguei ele e comecei a ler enquanto jogava The Last of Us, para PS3. Escutei que o jogo teve muita inspiração do livro e, como estava gostando bastante da história, decidi experimentar.

    Acho que o Cormack conseguiu levar o desespero e a falta de esperança em um mundo pós-apocalíptico a outro nível. Toda a história do pai protegendo o filho e o final óbvio que você vê se desenhar de longe dão um nó tenso no estômago. Eu quase parei de ler na parte em que eles encontram um abrigo seguro e cheio de comida só para a história acabar daquele jeito na minha cabeça, mas acabei lendo até o final.

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  8. Boa Tarde!
    Que publicação excelente. Gostei das diversas dicas sobre livros apocalípticos.
    Essa é uma temática que sempre me atraiu, inicialmente nos filmes, como o Exterminador do Futuro, depois o Livro de Eli, Mad Max entre outros.

    Comecei na parte literária (na verdade primeiro na série de TV) com o The Walking Dead. Na minha opinião, a sequência até o terceiro volume merece destaque, pois tem começo, meio e fim (o terceiro livro é praticamente o mesmo que acontece na HQ). Os demais livros são uma enrolação, eu particularmente não gostei.

    Estou lendo agora Apocalipse Z e essa série é espetacular. A narrativa é mais gostosa e tem mais sentido (e é menos cansativa e repetitiva que o TWD). Estou iniciando o terceiro volume da série e curioso pra ver o final da aventura.

    Agora baixei mais títulos dessa lista sensacional que vocês publicarão e vou me adentar ainda mais nas "portas do Apocalipse"...

    Grande abraço!

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