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Resenha | Só A Terra Permanece de George R. Stewart


A ficção científica sempre produziu grandes obras apocalípticas e pós-apocalípticas e cada uma delas constrói um quadro diferente da destruição do mundo, seja por desastres naturais, uma revolução de máquinas, mortos-vivos, guerra nuclear ou biológica, asteroides gigantes ou a própria idiotice humana. 

As visões do fim do mundo sempre envolvem violência, a sociedade saindo de seu eixo e liberando o animal louco por sobrevivência que existe dentro de cada homem, quando o caos começa todos os pilares das antigas organizações ruem rapidamente. Mas poucas obras conseguem exprimir o verdadeiro sentido do final de uma civilização como Só A Terra Permanece faz, escrito no final da década de quarenta é uma obra seminal, influenciou uma geração de histórias do gênero desde games atuais como The Last Of Us a obras consagradas como A Dança da Morte de Stephen King. 

George Stewart escreve com parcimônia e propriedade sobre os efeitos que a destruição da humanidade acarretaria ao planeta, não apenas com relação à fauna que se recuperaria dos anos de destruição, mas também com relação aos animais, a falta do homem no topo da cadeia alimentar teria grandes efeitos na natureza. Como o livro foi escrito antes das teorias conspiratórias e da loucura que imperou no período da Guerra Fria, muitos dos clichês a que estamos acostumados como hecatombes e sobreviventes mutantes são inexistentes, aspecto que torna a obra ainda mais valiosa e original. 

O fim de todos não está em uma explosão; O mundo não acaba com um suspiro, mas sim com um espirro, um estranho vírus altamente letal atacou os quatro cantos do planeta simultaneamente, sem proteção ou perspectivas de cura, o homem sucumbiu. Bilhões morreram. Na verdade apenas 1% da humanidade sobreviveu, herdeiros de um mundo morto e de uma sociedade em ruínas.

Isherwood Williams é o protagonista e o livro segue a sua exploração dos Estados Unidos pós-apocalipse, sua busca por sobreviventes e a tentativa de reerguer a humanidade das cinzas. Na cena inicial Ish encontra um simples martelo, ferramenta que leva a todo lugar, utilizado primeiramente como defesa contra o desconhecido, depois como símbolo de uma ciência, de um saber perdido. Mas com passar dos anos o martelo começa a adquirir um simbolismo místico, da determinação humana de sobreviver. 

E é engraçado ao final ver o que o objeto se tornou. O apocalipse em si não é muito referido pelo autor, seu foco é em como as relações sociais acontecem após a destruição e as mudanças nas mesmas, a ambivalência de antigos valores e julgamentos, o poder da solidão, a estrutura familiar, a educação e os instintos básicos do homem de buscar conforto na religião, costumes e superstições. Só A Terra Permanece é uma leitura emocionante, os protagonistas são construídos a partir da dor da perda de todos os que conheciam durante o apocalipse, mas ao longo das páginas seu caráter se altera através da maneira como evoluem de acordo com o tempo e os problemas que surgem. 

Conforme os anos vão passando nota-se que a raça humana não pode mais viver apenas de restos da antiga sociedade, é preciso reeducar a nova geração para que se possa aproveitar os resquícios da tecnologia antiga em prol da sociedade, todo o saber acumulado em centenas de anos está a poucos passos do completo esquecimento, máquinas pararam de funcionar e a ação do tempo e animais predadores destruíram o que sobrou. Agora o homem não domina mais o mundo. A noite tornou-se novamente perigosa e sombria. É preciso encontrar uma maneira de sobreviver nesta nova realidade. Pois o homem vem e vai, mas só a terra permanece.

   
  Só A Terra Permanece (1983) | Ficha Técnica 
   Título original: Earth Abides (1949)
   Autor: George R. Stewart
   Tradutora: Lígia Junqueira
   Editora: GRD
   Páginas: 333 páginas
   Compre: ---
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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7 Comentários

  1. Olha gostei de conhecer um pouco deste livro, eu gosto desse tipo de historia. Ele me lembrou o filme A Lenda, mas acho q é normal. Mas queria que eles inovassem nas formas de destruir a terra kkkk
    Bjos
    www.misturaseaventuras.blogspot.com

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  2. Mais uma obra apocalíptica que não conhecia. Eu só não compreendi o que você disse sobre haver influências de a dança da Morte. O livro não foi escrito na década de quarenta, ou seja, muito antes?

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  3. Acabei me expressando mal Ronaldo, na verdade eu quis dizer que como uma obra seminal ela serviu de inspiração, ou seja influenciou muitos autores do gênero nos anos seguintes, como o próprio King que em uma entrevista disse ser esse livro que inspirou a premissa de A Dança da Morte, que foi como acabei conhecendo esse livro.

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  4. Eu amo esse livro. Chorei muito no final e acho que é uma das melhores distopias já escritas. É uma pena que ele é tão pouco conhecido no Brasil. A última edição foi da GRD e ele desapareceu. Agora que temos tanta facilidade com ebooks, tava na hora de alguma editora relançá-lo, pois é muito bom. =D

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  5. Gostei desse! Parece bem interessante e combina com o tipo de leitura que aprecio!
    Rafael, você escreve com tal maestria que estou me sentindo sortuda por estudar contigo kkkkkkkkkkk
    Beijo e adorei

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  6. Este livro é sensacional! Pra mim é a Obra definitiva de pós humanidade, pos apocalise ou hecatombe. Parabéns pela resenha do livro, praticamente é uma das melhores que ja vi já vi sobre este obra fundamental.

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