Galilee é mais uma das visões sombrias e conturbadas que apenas a mente de Clive Barker poderia produzir, parte história de uma família e parte thriller de horror, mistura cenas tão intrinsecamente parecidas, mas ao mesmo tempo tão diferentes em sua essência que chega a ser perturbador. Como a doce experiência do amor sendo maculada pelo erotismo profano, as visões de horrores intangíveis à mente humana com o lado mais racional do homem, a razão confrontada pela insanidade, a paixão bebendo da fonte mais impura de ódio.
Sua ambientação coloca o mundo real em um flerte com o fantástico, um sentimento inocente que produz todo um panteão de seres não naturais e monstruosos que transitam livremente através da realidade. Se Stephen King conseguiu transportar o horror dos centros góticos europeus para o lugar-comum americano, Clive Barker foi além, transportando suas visões macabras para os confins mais sombrios da mente humana.
Clive Barker se imiscuiu por entre o gênero fantástico para contar a história de Galilee, que é ao mesmo tempo uma história de duas famílias americanas marcadas por um ódio sangrento e um amor tão poderoso a ponto de unir os dois lados. Os Geary são uma das famílias mais poderosas da América, seus membros são idolatrados pela mídia sendo diariamente manchetes dos principais jornais e revistas do mundo, a personificação do sonho americano embalado em dinheiro e sorrisos artificiais.
Mas como toda a família eles possuem esqueletos no armário, segredos tão obscuros que poderiam ser a ruína de seu poderoso império se chegassem a conhecimento público, um deles é com relação à família Barbarossa e sua misteriosa ligação que remonta a tempos antigos envolvendo um estranho ritual com as mulheres Geary. Os membros do clã Barbarossa possuem origens ainda mais sombrias misturando-se a mitos e lendas, são quase deuses atemporais. Muito sangue irá correr pelas páginas antes que todos os segredos sejam revelados.
Galilee se destaca das outras obras de Barker por sua profundidade narrativa, uma reflexão sobre os efeitos do amor, a paixão e a luxúria no auge da fase de fantasia urbana do autor. Não é uma história propriamente dita de horror, mas contém doses altas deste elemento, além de romance e suspense assim como todo o erotismo que permeia seus livros. É uma leitura indicada aos fãs de longa data do autor, aos principiantes que querem conhecer seu estilo é melhor começar por Livros de Sangue, Raça da Noite ou até Desfiladeiro do Medo.
A construção da narrativa é diferenciada, ao invés de seguir apenas uma direção no espaço-tempo o narrador avança e retorna anos a seu bel-prazer, a história principal é formada por pequenas narrativas, lendas, lembranças, suposições e mitos todos amarrados subjetivamente no grande mosaico do romance, de modo que o leitor inicialmente pode se sentir perdido em meio a tantos afluentes que o texto principal recebe, sem falar nas ramificações pelo caminho.
Mas a persistência é uma virtude. Galilee é um livro detalhista com um ritmo próprio, mas que ao final se revela uma viagem inesquecível ao cerne do ser humano. Recomendadíssimo!
Galilee (2006) | Ficha Técnica
Título original: Galilee (1998)
Autor: Clive Barker
Tradutor: ---
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 714 páginas
Autor: Clive Barker
Tradutor: ---
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 714 páginas
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Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)
2 Comentários
Barker, esse é nome do terror. É impossível não se vergar perante suas obras. O cara é visceral a classudo, a estética perfeita de suas obras sempre é um ponto extra de brilhantismo. Certamente lerei esse também!
ResponderExcluirMuito bom este livro ! Ao meu ver, o diferencial de Galilee que o faz ser acima da média é a narrativa em altíssimo nível de Barker. Uma obra deliciosa de se ler !
ResponderExcluirbomlivro1811.blogspot.com.br