A Francisco Alves foi uma editora que em meados dos anos oitenta e início dos noventa apostou com força em livros de terror e suspense. Responsável pelas primeira publicações de Stephen King e por algumas edições únicas como Trocas Macabras, A Metade Negra e Angústia através da coleção Mestres do Horror e da Fantasia, que teve outros grandes nomes publicados como H. G. Wells, Ray Bradbury e H. P. Lovecraft. Em meio a gigantes como esse outros títulos de autores desconhecidos passaram em branco e seu lançamento ficou esquecido sendo que hoje mal são lembrados pelos leitores como é o caso de Thomas Altman e Frank De Felitta. E mais de Paul Kent e seu intrigante O Berço.
O Berço foi publicado nos Estados Unidos em 1987 no ápice do gênero na época e em terras brasileiras chegou apenas em 1992 quando o mercado já estava começando a alterar seus estilos e gostos. Sendo este seu primeiro trabalho, Paul Kent traz uma história de horror com fortes cenas psicológicas, mas com uma narrativa fragmentada com ênfase não nos personagens, mas nos acontecimentos que cercam o verdadeiro protagonista da história o misterioso Berço.
Kent faz parte do seleto grupo de médicos que se aventuraram no mundo literário trazendo para os livros toda sua experiência na profissão e um toque pessoal a seus protagonistas, sempre médicos engajados em alguma batalha para salvar um paciente. Assim como Robin Cook e F. Paul Wilson ele se utiliza de termos e expressões médicas para tentar dissecar o horror de uma maneira mais lógica e racional, porém diferente desses a sua inexperiência pesou um pouco e seu protagonista apesar de sagaz e critico possui um toque de ingenuidade.
Stuart Rice é um médico que trabalhou muito para adquirir seu atual status de pesquisador, uma profissão que tira o contato com os pacientes, mas que em contrapartida lhe dá mais liberdade para estar com sua esposa, além ter momentos para si mesmo sem ter que ficar atendendo chamadas de emergência e passando noites em claro no hospital. E negação é sua primeira atitude ao receber da vizinha um telefonema frenético pedindo ajuda para seu filho recém-nascido.
Porém decide fazer uma visita para acalmar a mulher que está totalmente desesperada, chegando lá encontra o pobrezinho já morto em seu berço, mas sem nenhum ferimento aparente. Após uma autópsia nada reveladora o germe da curiosidade se planta em sua cabeça fazendo com que a descoberta do motivo da morte seja quase uma obsessão. Conforme busca informações sobre o histórico da família e sua genealogia chega próximo a avassaladora verdade, terrível demais para ser dita e horrível demais para ser observada.
A maneira leve com que a narrativa se desenvolve transforma a leitura das poucas mais de duzentas páginas do livro em uma deliciosa fuga a realidade. É um livro em que todas as respostas serão reveladas ao leitor só nas ultimas páginas, Paul Kent se utiliza de um recurso inteligente que mescla a narrativa atual com flashbacks da história do berço entrelaçados de um modo engenhoso e hábil que trazem uma riqueza a trama e aparam as pontas soltas da trama.
É uma leitura rápida que prende pela tensão de descobrir o segredo do Berço e é algo tão inimaginável que é impossível não se surpreender pela resposta. O desfecho eletrizante e perturbador é o que fez o livro entrar para a coleção Mestres do Horror e da Fantasia e faz cada página lida valer a pena.
O Berço (1992) | Ficha Técnica
Título original: The Crib (1987)
Autor: Paul Kent
Tradutor: José Eduardo Ribeiro Moretzsohn
Editora: Francisco Alves
Páginas: 220 páginas
Compre: ---
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (8/10 Caveiras)
2 Comentários
Me lembro de ter lido esse, e me surpreendi com o desenrolar da história. legal!
ResponderExcluirAcabei de reler. Farei uma resenha, infelizmente minha.primeira impressão, há mais de 15 anos, tinha sido mais positiva.
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