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Resenha | Chung-Li: A Agonia do Verde de John Christopher


Chung-Li: A Agonia do Verde é um pós-apocalíptico excepcionalmente triste e perturbador escrito em 1956 por John Christopher, pseudônimo de Samuel Youd. Em uma época que a ficção científica explorava o apocalipse como uma forma de exprimir o horror e o medo que pairavam sobre a sociedade com iminência de uma nova guerra mundial, através dos efeitos de uma hecatombe nuclear, a obra inova ao imaginar um ecoapocalipse causado por um vírus altamente destrutivo que ataca a família das gramíneas, basicamente formada por todos os grãos essenciais a alimentação humana, como o arroz, trigo, milho e aveia.

A primeira aparição do vírus ocorre na China, daí sua denominação Chung-Li, o mundo assiste impotente à destruição dos campos milenares de arroz do país e a consequente onda de fome que assola a população. O caos que se segue é inenarrável, regiões inteiras perdem suas coberturas verdes, os animais que não morrem de fome são caçados por seres humanos famintos e a histeria toma conta da população. O canibalismo é o passo seguinte. A sociedade regride a uma violenta existência tribal. A estimativa inicial é de milhões de mortes.  

A velocidade com que o vírus se espalha é assustadora, mesmo com as precauções do mundo ocidental, logo todos os países são acometidos pela moléstia, o resultado são centenas de plantações queimadas na tentativa de contenção e o racionamento é imposto. A estória se passa na Inglaterra, ignorando as desesperadoras notícias no rádio, os ingleses continuam suas vidas com o mesmo marasmo e desperdício de sempre e é apenas quando o consumidor médio é atingido pelo efeito do vírus, um simples tomate pode custar o mesmo que uma casa, que a histeria começa a se espalhar.

O governo tenta controlar a população, mas quando a notícia de que o parlamento planeja usar bombas atômicas nas grandes cidades para diminuir a população vaza, o caos se instala. O livro narra a estória de um grupo de pessoas e seu êxodo para escapar da loucura que se abateu sobre Londres em direção a um refúgio familiar no interior. E é nessa viagem que o lado bestial do homem emergirá. 

A escrita de John Christopher é ágil e imersiva, descrições claras se unem a bons diálogos e questões morais em uma narrativa interessante, mesmo não concordando com parte dos pontos colocados, mais especificamente na forma como são expostos, adorei a maneira como o autor explora a destruição da sociedade a partir de um vilão que enfrentamos diariamente. A fome. A humanidade evoluiu a ponto de essa não ser mais uma preocupação constante na vida do homem moderno, uma refeição é algo tão intrínseco do dia-a-dia que não paramos para pensar no que aconteceria se toda a comida do mundo acabasse. 

As plantas são parte essencial de nossa cadeia alimentar e a partir do momento que deixam de existir toda a vida no planeta está comprometida. Chung-Li é um livro bastante violento principalmente nas ideias que expõe, as pessoas mudam drasticamente quando estão sob efeito de uma fome extrema e atos antes considerados abomináveis tornam-se banais. Segundo a "orelha" do livro, o mesmo foi recusado por vários editores justamente por esse ponto, a publicação ocorreu através da revista semanal Saturday Evening Post, que a cada edição trazia um novo capítulo da estória. 

E a reação dos leitores foi desde a indignação ao completo horror, que culminou em uma enchente de cartas criticando o bom senso do autor, uma em especial foi determinante para a escolha deste livro: "Quando acabei de ler, fui até a janela contemplar o gramado de minha casa. Chorei. Foi como se estivesse vendo aquele verde maravilhoso pela última vez". 

 Chung-Li: A Agonia do Verde (1980) | Ficha Técnica 
   Título original: The Death of Grass (1956)
   Autor: John Christopher
   Tradutor: Luiz Horácio da Mata
   Editora: Francisco Alves
   Páginas: 200 páginas
   Compre: ---
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. Este livro é sensacional. Comprei exatamente após ler essa frase dessa moça, e achei fantástico como eles regridem ao barbarismo num ritmo ligeiro, como a civilização é assentada em coisas bem frágeis. O final chega a ser poético.

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