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Resenha | Estranha Obsessão de Richard Lortz


Estranha Obsessão começa de uma maneira inocente em um ambiente bucólico ao crepúsculo, quando uma jovem é seduzida pela beleza de uma revoada de pássaros no céu, como se regidas por um poder superior as aves formam as mais intrincadas imagens abstratas com seu voo. Seu espanto ocorre quando de forma abrupta os pássaros formam um leque e descem de encontro as árvores. Logo o verde das folhas é eclipsado pelas penugens pretas de mais de uma centena de corvos, que produzem uma cacofonia infernal de sons pungentes. 

A mulher começa a ficar assustada, tem a impressão de que os corvos a estão observando com seus estranhos olhos mortos, um deles se afasta de multidão e se aproxima em sua direção, chilreando de forma tão grotesca que parece estar reproduzindo maldições em sua língua desconhecida. Uma explosão de asas marca o ataque. A mulher está cercada de pássaros que a machucam com seus bicos e garras em um furor maligno, gritando e se debatendo consegue entrar em casa onde busca refúgio e segurança atrás de sua espingarda. 

Minutos depois suas mãos cheias de sangue empunham a arma e ao abrir a porta de se depara com as aves novamente empoleiradas na árvore, gralhando em confronto. Ela ergue a espingarda e... O que esperar de uma obra que começa com uma cena assim? Eu respondo: muito, mas mesmo pensar assim não vai te preparar para o final, com o toque de suspense e misticismo que permeia os anos oitenta, Richard Lortz constrói em Estranha Obsessão uma história que se iguala a grandes clássicos do gênero, como O Bebê de Rosemary de Ira Levin, A Sentinela de Jeffrey Konvitz e O Inquilino de Roland Topor.  

A loucura é um termo inerente em todas as obras citadas acima, o leitor é levado aos extremos da sanidade ao ter seu julgamento, sobre o que é real e o que é loucura, confrontado com as percepções dos protagonistas. Seus autores exploram a torturante claustrofobia que a histeria do convívio social urbano, em pequenos universos fechados, produz em mentes frágeis. 

Lortz caminha um passo além ao transformar a degradação psicológica da sua protagonista em um câncer que se alimenta das relações com pessoas próximas, partilhando assim o horror da loucura. Estranha Obsessão conta a história de Christine e sua vida de casada com Mike, um relacionamento com um abismo de trinta anos de diferença entre os dois, e seus dois filhos. 

Eles vivem em um imenso casarão com mais de trinta cômodos, sendo que a maioria foi invadida pelo mato e a putrefação do abandono e estão inabitáveis. Richard Lortz causa certo desconforto ao transportar o leitor para o centro dessa relação entre casal, os pensamentos mais sombrios e obscuros de ambos personagens são passados no papel, o sentimento de invasão e estranhamento surge ao longo da trama conforme desvendamos os segredos de cada um. 

O livro é de leitura rápida, são poucas mais de cento e sessenta páginas que passam literalmente voando, o tom despreocupado das páginas iniciais contrasta ferozmente com o horror desvairado das finais. É deliciosamente perturbador. Quanto mais às cegas você embarcar na leitura mais desconcertante a mesma será, por isso não falarei mais nada sobre a história. Estranha Obsessão é mais um tesouro perdido entre os livros de horror dos anos oitenta!

  Estranha Obsessão (1980) | Ficha Técnica 
   Título original: Lovers Living, Lovers Dead (1977)
    Autor: Richard Lortz
   Tradutora: Geni Hirata
   Editora: Francisco Alves
   Páginas: 166 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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