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Resenha | A Metade Negra de Stephen King


A lenda do Doppelgänger é um mito bastante utilizado por muitos autores de horror para criar livros que desafiam os limites da mente e imaginação humana, mesmo que o tema seja recorrente cada história baseada nessa premissa, mostra uma evolução diferente, apesar de inicialmente trilhar os mesmos caminhos. Edgar Allan Poe a utilizou em William Wilson, assim como Peter Straub em Mr. X, Dean Koontz em Sr. Assassino e Keith Donohue em A Criança Roubada, cada um adicionando a mitologia do duplo maligno suas experiências pessoais. 

Com Stephen King, em A Metade Negra, não foi diferente, a partir de suas experiências com a criação de Richard Bachman e os eventos que culminaram na revelação do pseudônimo, tece uma trama bastante assustadora sobre o questionamento da identidade e a despersonalização através da loucura, tudo isso no ambiente claustrofóbico da pequena Castle Rock.

O mito do Doppelgänger possui raízes na mitologia germânica, que o define como uma criatura diabólica que pode assumir a forma de uma pessoa reproduzindo de maneira idêntica, trejeitos de movimentos e fala tornando impossível para a diferenciação entre os dois, esta só pode ser feita com uma profunda observação das emoções, pois o duplo maldito é desprovido de qualquer humanidade. 

Através das figuras de Thad Beaumont e George Stark, Stephen King explora o seu subconsciente e a relação que o levou a criar Richard Bachman, pseudônimo sob o qual assinou alguma de suas obras mais violentas A Fúria, livro cuja republicação acabou sendo proibida, além de histórias como A Longa Marcha, A Autoestrada e O Concorrente. Se King era considerado cruel com seus personagens pelas provações que os fazia passar, Bachman pode ser considerado um sádico psicótico que sente prazer no sofrimento de seus protagonistas. 

No Brasil existe uma edição extremamente rara que traz os quatro livros acima citados em um único volume, Os Livros de Bachman. A Metade Negra também está em estado de raridade e por enquanto sem nenhuma previsão de republicação, foi lançado no inicio da década de noventa através do selo Mestres do Horror e Da Fantasia.

Em A Metade Negra um escritor após um bloqueio de escrita decide escrever sob pseudônimo, logo se a ideia não der certo, a mídia não irá crucificá-lo, pois a culpa será de um desconhecido e o livro não demorará a cair no esquecimento. Assim Thad Beaumont cria George Stark. Os livros de Stark são carregados de violência e seu protagonista, Alexis Machine, é um anti-herói de causar arrepios. Acontece que esses livros fazem um enorme sucesso, mais ainda que aqueles que possuem seu nome na capa, e uma legião de fãs de Stark começa a surgir. 

Porém circunstancias atenuantes fazem com que Thad tenha que levar a público seu segredo, a maneira escolhida é uma reportagem para uma famosa revista falando sobre o funeral de George Stark. O fotógrafo consegue captar o ar pesado que domina a entrevista naquele cemitério no interior do Maine com a lápide de mentira ao fundo, a inscrição é bastante legível: George Stark (1975-1988) Um Cara Não Muito Legal. É esse artigo que começa o horror.

Como todos os livros de Stephen King escritos na década de oitenta, A Metade Negra consegue causar arrepios nas pequenas descrições de horror que são feitas de modo banal, uma de minhas favoritas e que mais me impressionou na primeira leitura na adolescência foi à imagem da mesa de operações com Thad ainda menino. Atormentado por constantes dores de cabeça visita um centro médico onde descobre um tumor em seu cérebro, a cirurgia não demora a ser marcada e quando o procedimento é iniciado, após a abertura do crânio a equipe de médicos e enfermeiras se horroriza com a visão.

Em meio à massa cinzenta do córtex frontal um olho cego os observa totalmente formado e assustadoramente real segue os movimentos sanguíneos e espasmos do cérebro em uma macabra dança que dá a impressão de movimentos vivos. A criação da personalidade de George Stark é absolutamente genial, o monstro parece se alimentar de Thad e a tensão da união que há entre dois é tão palpável como a sensação de gelo na nuca.

Castle Rock como cenário faz com que A Metade Negra tenha conexões com muitas outras obras de Stephen King, seja através de menções de personagens ou outras histórias. Faz parte da chamada Trilogia de Castle Rock, sendo o primeiro ato seguido de O Cão da Polaroid, novela presente no livro Depois da Meia-Noite, que culmina com Trocas Macabras. Leitura obrigatória aos fãs de King.

*O livro foi republicado como A Metade Sombria na Coleção Biblioteca Stephen King em 2019.

   A Metade Negra (1991) | Ficha Técnica 
   Título original: The Dark Half (1989)
   Autor: Stephen King
   Tradutor: Luísa Ibañez 
   Editora: Francisco Alves
   Páginas: 360 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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3 Comentários

  1. Adorei a resenha (pra variar rsrsrsrsrs)... Caramba, adoro como tu consegues captar o espírito das histórias e, apesar de fazer muito tempo que li o livro, consigo relembrar quase toda a história e fico super ansiosa para reler...
    Eu lembro que esse livro me deixou bem assustada, não tanto quanto outros, mas o suficiente pra ter pesadelos kkkkkkkkkkkkkkk
    Parabéns por mais uma postagem excelente!!!!
    Bjão!

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  2. li esse livro recentemente e ele, comparado a outros livros do king, principalmente dessa mesma época é no mínimo regular. retirando algumas cenas tensas dignas do mestre king, o que sobra é uma trama policial corriqueira (corriqueira, claro para livros de suspense policial) percebi que nessa critica você não inseriu a nota. eu daria um 7.

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  3. Não li nenhum livro do autor mas me interesso muito por este tipo de literatura.

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