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Resenha | O Exorcista de William Peter Blatty


Poucas histórias de terror possuem fama o suficiente para que a simples menção de seu nome cause arrepios e calafrios no mais corajoso dos leitores de horror, O Exorcista é uma delas com seu próprio nome carregado de maldade e terror, mesmo após quarenta anos de sua publicação ainda consegue assustar e impressionar jovens leitores. William Peter Blatty escreveu uma das mais famosas e clássicas obras de terror do século XX, revolucionando a literatura do inicio dos anos setenta com cenas fortes e perturbadoras, porém sem ter nenhuma relação com tudo o que foi escrito antes dele, não há nada de Poe ou Lovecraft em sua narrativa, o estilo pende mais para os romances policiais da época tendo como subtema o sobrenatural. Mas então de onde veio tanto sucesso?

O próprio Blatty diz que a denominação "história de terror" foi acidental, ele queria escrever um livro que falasse sobre fé no qual as crenças de um servo de Deus fossem testadas pelo paranormal, os sustos foram algo não planejado, até a própria publicação do livro foi difícil pois nenhuma editora acreditava que iria vender com um tema tão macabro e sem apelo junto ao público. Porém o sucesso foi imediato o livro ganhou as listas de mais vendidos e o filme que veio a seguir o elevou ao patamar de clássico, vale ressaltar que o próprio autor adaptou o roteiro e ganhou um Oscar pelo trabalho de modo que livro e filme são semelhantes em tudo, ambos se completam com as perturbadoras imagens ilustrando a profundidade das palavras.

O Exorcista de tornou um verdadeiro fenômeno cultural moderno e inaugurou uma nova linha de livros de terror cheios de pequenas e inocentes garotas possuídas pelas mais diversas forças e espíritos. O satanismo e o ocultismo se tornaram populares e os romances tão famosos da década de oitenta por mesclarem esses assuntos com certeza tiveram em sua ideia original um pouco de O Exorcista. A obra é assustadora sem sombra de dúvidas, mas em termos de construção narrativa e escrita de horror deixa um pouco a desejar o autor não estava escrevendo sobre terror, Stephen King em seu livro Dança Macabra, fez uma das únicas criticas a escritores vivos citando Blatty como exemplo de escrita não aproveitada e seu silencio (na criação de livros) após a obra.

O livro de Blatty ganha vida própria durante a leitura e é praticamente impossível parar de ler, perde-se a calma e os nervos são testados durante cada página de modo que enquanto não se souber a conclusão da estória não se consegue dormir. Foi um dos primeiros livros que li, quando ainda tinha catorze anos, encontrei-o na biblioteca da cidade junto com A Profecia de David Seltzer, os dois foram leituras aterrorizantes e me fizeram ter pesadelos por muito tempo. Quando se lê O Exorcista à concentração que o livro consegue atrair é tanta que o menor ruído faz o coração disparar, há uma fuga da realidade, ela parece se encolher em volta do leitor que é totalmente absorvido pelo clima macabro que domina o livro.

Mesmo anos depois de primeira leitura e já preparado por inúmeros sustos de livros anteriores a estória conseguiu me envolver e deixar tenso. Sem dúvidas é um dos melhores livros de terror, aquele que vai te fazer tremer feito uma menininha em seus pesadelos, aquele que vai rechear a escuridão das suas pálpebras com monstros e demônios terríveis, aquele vai brincar e roer a estrutura de suas crenças independentemente de qual seja e fazer questionar-se sobre a realidade do mal, aquele que ao mesmo tempo que lhe aproxima da maldade faz enxergar o bem inerente em cada alma...

William Peter Blatty conseguiu criar uma atmosfera sombria que cresce ao longo do livro tanto em densidade como suspense, é dividido em quatro partes que essencialmente são os estágios de possessão de Regan. Tudo começa com um enigmático prólogo que apresenta o leitor ao Padre Merrin e seus sombrios segredos, após ser encontrada em uma escavação a imagem de Pazuzu, o velho sacerdote sente que sua batalha contra o mal está chegando a sua inevitável conclusão.  Na mitologia assíria e babilônica Pazuzu era o demônio dos ventos responsável pela fome nas secas e gafanhotos nos períodos chuvosos, sua representação profanava a imagem humana associando-a a diversas partes animais.

Então começa o calvário de Chris McNeil e sua filha Regan que veem sua rotina ser alterada aos poucos por pequenas interações sobrenaturais. Em "Começo" a primeira parte do livro, o sobrenatural se insere aos poucos, de maneira lenta mas metódica, são pequenas batidas repetidas no sótão à noite, uma leve e acentuada queda da temperatura em cômodos da casa, móveis fora do lugar ou em posições estranhas e coisas desaparecendo de seu lugar habitual como roupas  e pequenos utensílios. "A beira" surge como um sopro gelado de horror na espinha e nos arrepia profundamente com a sabedoria de que algo não está certo naquela casa porém ainda sem nenhuma prova definitiva do fato.

O drama começa quando o comportamento do Regan sofre alterações e Chris não pode mais fazer vista grossa ao mal que se apossa de sua casa. Paralelo ao sofrimento na casa dos McNeils passamos a conhecer o Padra Damien Karras, um homem em crise de fé, com uma vida toda devotada aos jesuítas e tendo o voto de miséria como fundamento se vê em profundo desespero quando a doença de sua mãe exige um tratamento caro e dispendioso exigindo um dinheiro que ele não possui.

A segunda metade do livro é o mais perturbador relato da batalha entre o bem e o mal. Divido entre o "Abismo" e "Que meu apelo chegue a ti..." a estória evolui para um ritmo frenético que engolfa o leitor e então seguimos todos juntos em marcha acelerada até a conclusão dos acontecimentos. Reagan passa por uma epopeia em centros médicos para descobrir que tipo de doença a acomete, está totalmente diferente da menina frágil e doce do inicio do romance, agora além de agressiva utiliza palavrões contra todos e blasfema como o capitão mais experiente bêbado em uma taberna rodeado de prostituas.  Há muitas subtramas que acompanham os acontecimentos principais, mortes misteriosas, missas negras e muitas coisas mais contribuem para criar o ambiente sombrio da estória.

O Exorcista não é um livro sobre o que é o mal, a violência e seu significado ou para nos deixar relaxados quanto às insinuações de mortalidade. Na verdade é um livro que trata da redenção através do amor, do poder de mudança que a culpa produz e da força da fé das pessoas em algo maior. Não é um livro que promova o culto ao demônio, satanismo ou qualquer outra idiotice que quem não leu possa pensar, é um estória onde o bem triunfa sobre o mal e lição de que a morte física não é o fim, apenas a morte espirito é verdadeira perda. A maneira como o demônio foi vencido no final é um dos trunfos do livro, apesar de já conhecer o final sempre me surpreendo com a emoção que causa ao ler.

   
  O Exorcista (1972) | Ficha Técnica 
   Título original: The Exorcist (1971)
   Autor: William Peter Blatty
   Tradutor:  Milton Persson
   EditoraNova Fronteira
   Páginas: 324 páginas
   CompreAmazon
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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13 Comentários

  1. Este está na minha lista de desejados há um bom tempo.
    É a primeira resenha que leio desse livro, e estou me sentindo :O
    Perfeito!
    Tudo que eu gosto, chego a me sentir sufocada só com a resenha, imagine quando ler o livro.

    Bjkas

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  2. eu sou louca pra ler O exorcista, sou apaixonada pelo filme... Li a profecia [outro que amo a trilogia de filmes] e sonho em ter ambos os livros na estante... nem sabia que havia uma versão atualizada da obra... tentarei ler ambas...
    bjs
    http://torporniilista.blogspot.com.br/

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  3. Eu comprei essa edição de 40 anos e achei sensacional. Para que curte terror, não tem como perder.
    É impressionante como o filme é fiel ao livro. Não por acaso ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado.
    Não deixem de ler (com a luz acesa).

    Abraços

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  4. Acabei de ler este livro. Um dos melhores que li até hoje, muito bom mesmo. Achei o mais aterrorizante que li, mais até do que A Coisa. Maurilei.

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  5. Lí há uns 15 anos mais ou menos, é um livro incrível.

    Aquelas cenas no quarto, nas quais parece que o frio que toma o lugar te pega e arrepia a pele, nunca esquecerei!!!

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  6. Obrigado pela Resenha Rafa, e pelos comentários aqui postados, já tive a curiosidade de ler esse livro e comprei ele na Bienal do Livro, estou louco para começar a ler!!!

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  7. Peguei uma edição antiga numa biblioteca comunitária, e estou lendo aos poucos, a capa sinistra, o livro é bem escrito e a história, envolvente e perturbadora. Aborda questões insondáveis que assombram o ser humano desde sempre. Impressiona a quem não tem visão superficial da realidade e sabe que a nossa existência é uma coisa muito estranha, e a Vida está bem longe de ser uma brincadeira.

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  8. Acabei de compra-lo e espero ansiosa que chegue.. Adoro ler livros de terror e ficção fantastica, meus gêneros preferidos.. Claro que nunca dispenso um bom livro independente do genero! Conheço a fama de Exorcista desde pequena, meu pai é um amante dos filmes de terror (livros nao, ele tem preguiça de ler, rsrs) e mesmo nao me deixando assistir eu sempre via uns pedacinhos dos filmes, e O Exorcista é um dos filmes que me da um arrepio só de pensar.. Confesso que fiquei muito indecisa sobre comprar ou nao, com medo realmente.. Sua resenha me ajudou a decidir, gostei de saber que o livro nao quer ser um manual de adoração ao demonio ou coisa do tipo!! Mas não, eu não tinha preconceito com o livro, mas sempre tive medo de ler!! Voce não ficou possuido não ne? =P.. Brincadeirinha!!

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  9. Já li 2 vezes, quando eu era adolescente ainda e ano passado, diferença de 10 anos. Um dos meus livros preferidos, assustador, sempre atual, um clássico.

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  10. Não tenho o hábito de ler, mas esse livro eu li em menos de uma semana ! Excelente !

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  11. Essa é a referência das referências do terror. Estórias de possessão sempre sofrerão na comparação da obra prima do infelizmente agora saudoso William Peter Blatty.

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  12. Eu li, mas não consegui ver porque esse livro se tornou um clássico. Esperava mais.

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